terça-feira, 11 de julho de 2023

ENTREVISTA | Cozinheiras são demitidas pela prefeitura, após vereadores flagrarem irregularidades em escola de Alta Floresta

Segundo as servidoras, as demissões aconteceram devido a resistência em seguir “ordens” para ficarem em silêncio sobre certas situações estranhas das quais eram proibidas de se manifestar.

A sequência de fatos foi desencadeada dias após a visita surpresa dos vereadores Luciano Silva (Podemos) e Zé Eskiva (PL), na Escola Municipal Vicente Francisco da Silva, do Bairro São José Operário, na sessão do último dia 31/05/23, e na ocasião acabaram flagrando um funcionário de um supermercado entregando produtos que não condiziam com a mercadoria declarada na nota fiscal.

Na tribuna da Câmara, o vereador Luciano Silva contou o episódio ocorrido na escola e disse que existem membros da administração que fazem de tudo para impedir suas atividades de fiscalização diante de denúncias que vem recebendo, mas, que se for preciso irá envolver até mesmo o GAECO do MP/MT,  para frear tais servidores que tentam impedi-lo de realizar seu trabalho.

A visita dos vereadores ocorreu 30 dias antes da demissão, e as demitidas foram as mesmas cozinheiras que estavam no dia do flagrante, sendo repreendidas logo após saída dos vereadores e forçadas a ficar em silêncio sobre a visita dos vereadores, mas, mesmo obedecendo, acabaram perdendo seus cargos, sem serem apresentadas razões plausíveis que levaram a tal decisão. Elas simplesmente chegaram pra trabalhar no período da tarde e foram informadas que não faziam mais parte do quadro de funcionárias, sem direito se quer de se despedir das crianças.

O vereador Luciano Silva, em discurso na tribuna da Câmara Municipal, apresentou os fatos como sendo de extrema preocupação e até mesmo suspeitos de graves ilegalidades com relação aos produtos gêneros alimentícios fornecidos a escola.

VEJA O DISCURSO DO VEREADOR:

Segundo as cozinheiras, acreditam que as demissões tenha sido por causa do princípio de incêndio ocorrido em uma pequena dispensa, sem ventilação, onde ficava de forma irregular um forno industrial, fora da cozinha, junto com alimentos estocados, colocado ali para assar alimentos, mesmo não estando dentro das dependências apropriadas (cozinha).

ENTREVISTA REVELADORA

Uma das cozinheiras dispensadas sumariamente pela Secretaria Municipal de Educação, concedeu entrevista em nossa redação e expôs a forma como eram tratadas pelo diretor e membros da diretoria que fazem parte de um conselho interno composto por 5 pessoas, que julgam e determinam quem sai ou quem fica na escola.

Concordamos em não revelar o nome completo da servidora entrevistada, que se sente ameaçada, mesmo após a demissão, e devido a forma como era tratada pelo próprio diretor com ameaças veladas que posteriormente foram declaradas abertamente por Ozias Pego, com as seguintes palavras: “é melhor você ficar quieta senão a sua cabeça vai rolar”. Vamos identifica-la apenas pelas suas iniciais I.B.S.

FORNO “EXPLODIU” E CAUSOU INCÊNDIO

Segundo a entrevistada (áudio abaixo),  uma a suposta explosão, ocorrida no dia 28/6 (Quarta), de um forno que ficava em uma dispensa de alimentos (que foram contaminados pela fumaça do incêndio), se deu por falha no acondicionamento dos botijões de gás que ficavam ao lado do forno, e com a mangueira de gás praticamente encostada no forno. Devido ao esquecimento de uma de suas colegas de trabalho, o forno teria ficado aceso por mais de 4 horas (por volta das 07:00hs às 11:30hs), vindo a derreter a mangueira e com isso provocando uma explosão.

Quanto a responsabilidade em cuidar cuidar da permanência do alimento que estava sendo assado, I.B.S. atribui a cozinheira do dia, e que chegou a perguntar se ela não se esqueceria de desligar o forno, pois já estava na sua hora de para casa, sendo a mesma a tranquilizou dizendo que tinha pedido para a colega da limpeza olhar o forno para ela, portanto, não se sente responsável pelo acidente ocorrido ou teve qualquer participação no episódio.

Segundo I.B.S., a maior responsabilidade estaria por conta da diretoria da escola que mesmo tendo conhecimento de que os botijões de gás devem ficar afastados do forno nunca se importou em prevenir tal perigo com uma barreira de contenção que pudesse evitar os riscos de explosão.

Segundo I.B.S., um grupo de 5 pessoas que determinam o destino dos servidores que trabalham dentro dos muros da escola, dentre estes o diretor Ozias Pego, sua esposa Fabíola (professora), outro par de professores casados e uma assistente do diretor que trabalham na escola, ao qual a cozinheira se referiu aos mesmo como “panelinha“.

Segundo I.B.S., são várias as “irregularidades” praticadas na escola, que induzem os servidores a ter medo dos dirigentes, tais “irregularidades” vão desde assédio moral com perseguição velada, censura expressa, alimentos recebidos sem notas, alimentos que não atendem as normas de padrão de qualidade, alimentos destinados as crianças que são consumidos prioritariamente pela diretoria e professores, falta de fiscalização técnica por parte do Corpo de Bombeiros, exposição das servidoras ao risco de morte e comportamento inadequado de profissionais do corpo docente, alimentos próximo do vencimento, carne que não condiz com o que está especificado na nota, sobras de alimentos (lavagem) seria vendida pelo diretor, e alimento amanhecido (arroz), servido de um dia para o outro para os alunos.

Diante dos fatos abusivos a que se sentiram submetidas, as cozinheiras registraram um Boletim de Ocorrência, de nº 2023/185110, no último dia 04/7 (Terça-feira), confirmando estas e outras declaração contra o diretor da Escola Vicente Francisco da Silva e seu corpo administrativo as autoridades policiais, para que sejam tomadas as devidas providências.

OUÇA A ENTREVISTA COM UMA DAS COZINHEIRAS DEMITIDAS:

 

O QUE DIZ O DIRETOR

Entramos em contato com o diretor Ozias Pego, da Escola Vicente Francisco, que a princípio começou a responder nossas perguntas, mas, passados alguns minutos desligou o telefone e não conseguimos mais respostas do mesmo.

Apesar da negativa do diretor em continuar a entrevista, o diretor chegou a afirmar que a determinação para que o forno ficasse da dispensa com alimentos partiu do Setor de Engenharia da prefeitura, quando fez a liberação para o funcionamento, segundo ele, após a confecção de um relatório.

Tentamos insistentemente contato novamente com o diretor Ozias Pego, mas, o mesmo não atendeu mais as nossas ligações.

BOLETIM DE OCORRÊNCIA CONTRA DIRETOR DA ESCOLA:

FOTO DO ARROZ AMANHECIDO FORNECIDO AS CRIANÇAS:

IMAGENS DOS ALIMENTOS FORNECIDOS PARA REFEIÇÃO DAS CRIANÇAS:

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

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