terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Médicos e empresas montaram esquema diabólico para vencer todas as licitações do Estado; 'na pandemia tudo é nosso'

Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), a LGI, liderada pelo médico Luiz Gustavo, detinha o monopólio da UTI em Alta Floresta.

Na primeira fase da Operação Espelho, os empresários Luiz Gustavo Castilho Ivoglo e Osmar Gabriel Chemim foram alvos de investigação.

Eles consolidaram suas empresas, a LGI Serviços Médicos Ltda e a Bone Medicina Especializada Ltda, com o propósito de participar e vencer concorrências promovidas pelo governo estadual. Conquistaram licitações para Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) em Alta Floresta, Colíder, Sinop e Sorriso, lucrando no setor de saúde, uma vez que, independentemente da empresa vencedora, ambos estavam dentro do mesmo grupo.

Contudo, ao perder a licitação para a Bone, de Osmar e Luiz Gustavo, juntamente com os sócios Renes Leão e Bruno Melo, elaborou um plano. Esse plano incluía manobras para desacreditar a empresa vencedora, como a eleição do diretor técnico do hospital para prejudicar concorrentes, registro de boletins de ocorrência alegando irregularidades, além de oferecer subornos mensais de R$ 10 mil a uma servidora do Hospital Regional de Alta Floresta em prol do grupo.

Antes de colocar o plano em prática, Luiz Castro procurou Osmar para propor uma aliança entre os grupos concorrentes em licitações estaduais. O acordo visava garantir lucros para ambos os lados nos contratos de serviços médicos e hospitalares em Mato Grosso. Eles acordariam os preços das ofertas e determinariam em quais licitações cada um venceria e atuaria, além de administrar conjuntamente alguns contratos.

De acordo com o MP/MT, informações privilegiadas e acordos de preços, sem pesquisa de mercado ou competição, resultaram em um “jogo de cartas marcadas” para a distribuição de contratos com o poder público. A investigação revelou superfaturamento por inexecução, pagamentos não comprovados a médicos infectologistas e cirurgiões gerais, entre outras irregularidades.

A denúncia destaca a criação de um grupo no aplicativo WhatsApp chamado ‘UTI AF/HRCOL/SORRISO’, marcando o início do esquema milionário de fraudes em licitações e desvios de recursos públicos, enriquecendo ilicitamente à custa da saúde pública e dos contribuintes. O MP/MT busca reparar os danos aos cofres públicos no valor de R$ 57,5 milhões e a destituição dos cargos públicos de três denunciados.

A Operação Espelho, conduzida pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), revelou um esquema de fraudes em hospitais de Mato Grosso. As duas fases da operação visavam desmantelar um suposto cartel formado por empresas para fraudar contratos com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), com a colaboração de agentes públicos.

Na ação, foi denunciada a figura conhecida como “mulher da SES“, conhecida agora, após a denúncia do MP/MT como sendo a servidora Caroline Campos Dobes Conturbia Neves, secretária-adjunta de Gestão Hospitalar da Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Mato Grosso, apontada como peça-chave no esquema por fornecer orientações aos empresários para garantir vitórias nas licitações. No total, 22 médicos foram denunciados, assim como diversas empresas investigadas na operação que tiveram contratos milionários com o Estado.

Ao todo, 22 médicos, servidores e empresários foram denunciados, sendo eles, Alberto Pires de Almeida, Alexsandra Meire Perez, Bruno Castro de Melo, Catherine Roberta Castro da Silva Batista Morante, Carine Quedi Lehnen Ivoglo, Caroline Campos Dobes Conturbia Neves, Elisandro de Souza Nascimento, Euller Gustavo Pompeu de Barros Gonçalves, Gabriel Naves Torres Borges, José Vitor Benevides Ferreira, Luiz Gustavo Castilho Ivoglo, Luciano Florisbelo, Marcelo de Alécio Costa, Maria Eduarda Mattei Cardoso, Marcio Matsushita, Miguel Moraes Da Cruz Suezawa, Nabih Fares, Pamela Lustosa Rei, Renes Leão Silva, Sergio Dezanetti, Samir Yoshio Matsumoto Bissi e Osmar Gabriel Chemin.

L.B. Serviços Médicos, atualmente denominada por LGI Médicos LTDA, Bone Medicina Especializada, Organização Goiana de Terapia Intensiva Ltda, Intensive Care Serviços Médicos LTDA são empresas investigadas na operação, que tiveram contratos milionários com o Estado, aceitos.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

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