
ANTÓNIO OLIVEIRA E SILVA, Paris
CLAUDE PARIS-AP (imagem)
Nicolas Sarkozy é considerado pelos meios de comunicação social franceses e estrangeiros como alguém especialmente dotado para a comunicação e para o debate. E o peso que o recém-eleito presidente francês tem nos media está mesmo a preocupar jornalistas e organismos representativos da classe, como sindicatos e os Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A demonstração dos seus dotes com a comunicação não é de hoje. Em 1993, tentara negociar, então como presidente da Câmara Municipal da cidade de Neuilly-sur-Seine, com Eric Schmitt, o informático que mantinha reféns 21 crianças num jardim-de-infância daquela localidade.
Foi visto como a voz dos franceses em fúria pelas inúmeras vezes em que disse o que pensava a câmaras de televisão, sem complexos. Incendiou literalmente o debate político e social no Hexágono, em 2006, quando era ministro do Interior, ao explicar a uma senhora que a livraria de toda a escumalha (em francês, racaille) que a incomodava.
Polémico incontornável, Nicolas Sarkozy bateu recordes de audiência em entrevistas concedidas em programas de televisão para os canais TF1 e France 2, superando em ambas as vezes os sete milhões de telespectadores, segundo o Le Monde.
A relação entre Sarkozy como Chefe de Estado e os grandes grupos de comunicação franceses começa definitivamente a preocupar organismos como os RSF, que não se coíbe de lançar alertas.
Em 2005, O jornalista Alain Genestar foi afastado da direcção da revista Paris-Match, propriedade grupo Lagardère, depois da publicação de uma fotografia de Cecilia Sarkozy (mulher do presidente) com um então seu companheiro sentimental.
O director geral e accionista maioritário do grupo, Arnaud Lagardère, é amigo pessoal do Presidente.
Acusações ao poder
Um episódio de auto-censura aconteceu posteriormente, durante as presidenciais deste ano. Jacques Espérandieu, director da redacção do Journal du Dimanche, outra publicação do referido grupo, teria reconhecido perante a France Press ter recebido "chamadas da parte de pessoas insistindo na não publicação dos documentos que comprovavam que Cécilia Sarkozy não teria ido votar, por se tratar de assuntos da vida privada".
Ambos os episódios são descritos num comunicado dos Repórteres Sem Fronteiras de Maio deste ano, onde organização apela à vigilância para o mandato de Nicolas Sarkozy na Presidência e alerta para eventuais atentados contra a liberdade de expressão.
Um artigo encontrado na versão digital do diário Libération a propósito do referido affair faz eco das preocupações dos principais sindicatos de jornalistas franceses, que têm denunciado o poder instalado de ter "decidido passar a pente fino as redacções de certas publicações e que consideram tal situação chocante".
Um caso mais recente, mas igualmente suspeito, constitui a nomeação de Laurent Solly, de 36 anos e antigo director de campanha adjunto de Nicolas Sarkozy, como presidente do canal de televisão privado TF1, o primeiro em termos de audiência.
A oposição socialista veio de imediato a terreiro denunciar a situação, classificando-a de "completamente indecente".
Uma jornalista da revista Marianne, conhecida por pelo seu papel de contestatária do poder, assinou um artigo no início deste ano, onde confirma a habilidade do então ministro do governo de Chirac em exercer a sua influência perante os principais grupos de comunicação franceses, grupos publicitários incluídos.|
Nenhum comentário:
Postar um comentário