
Marianna Senderowicz e Tiago Cordeiro
Para muitos profissionais do jornalismo esportivo, o rádio é o espaço da paixão, onde o comentarista deve sempre exercitar a rivalidade, ao contrário da TV, onde a imparcialidade é indispensável. O comentarista e jurista Jonas Greb exercitou não apenas sua paixão.
Ele ofendeu torcedores do Grêmio, fazendo acusações contra dirigentes do clube e se referindo ao time e ao gaúchos como "horda de criminosos" e "lixo", respectivamente. Greb, que tinha um espaço independente na rádio, teve seu contrato cancelado pela Trianon, de São Paulo, nesta quarta-feira (6/06).
"Eles (gaúchos) dizem que querem se separar do Brasil. Que separem. Não precisamos do Rio Grande do Sul na Bandeira do Brasil. Ah, o Sul é meu país! Que seja outro país, o país das bichonas. Vão pro inferno todos os gaúchos, os gremistas. Não servem para ser brasileiros. Não é gente, é bandido. (...) O time do Grêmio é formado por bandidos. Diretoria de bandidos! (...) Gaúcho é lixo pra mim", declarou no programa Santos sempre Santos, veiculado pela rádio.
O comentarista foi procurado pela reportagem, mas não foi encontrado. Em sua página pessoal no Orkut, Jonas é ofendido por gremistas e trocou seu nome para "Gaúcho Tchê POA".
O caso é semelhante ao do radialista Don Imus, da NBC. Em abril, ele ofendeu jogadoras do time de basquete Rutgers e foi suspenso por duas semanas pela emissora. Ao contrário do norte-americano, Greb não demonstrou nenhum arrependimento, chegando a declarar à rádio Guaíba que o programa era "interno", "não deveria ter chegado" aos ouvintes gaúchos e que arcaria com as conseqüências. "Sou um jurista experiente. Se o Zé Dirceu não tá preso, eu vou ser? Isso aqui é o Brasil", declarou.
Apenas
Além de torcedor do Santos, Greb é advogado e foi candidato a deputado estadual pelo PSC em 2006. No programa ele afirma que vários torcedores do Santos foram agredidos pela torcida gaúcha, mas o fato foi negado por Alexandre Neves, da direção da Torcida Jovem, torcida organizada santista. "Houve apenas fatos isolados", explicou.
Das reclamações de Greb a única confirmada foi a má recepção aos 25 dirigentes santistas, obrigados a assistir ao jogo em um cubículo de oito metros, com espaço para apenas 10 pessoas. "Esse foi o grande problema, mas isso não justifica a besteira que ele disse", opinou Aldo Neto, coordenador de comunicação do Santos. No Grêmio, o clima não parece ter sido afetado pelas acusações. De acordo com Carlos Josias Menna de Oliveira, diretor do Departamento Jurídico do clube de futebol, o tiro de Jonas Greb saiu pela culatra: "Os jogadores estão até mais motivados para o jogo do que antes".
Foco
Josias conta que ainda não há uma definição sobre que medidas serão tomadas contra o radialista, pois o foco de todos está na partida desta quarta-feira. "Se o presidente (do clube) Paulo Odone decidir processar o advogado é o que vamos fazer, até porque as declarações feitas são passíveis de processo civil e criminal. Até Greb sabe disso."
Na Brigada Militar do Rio Grande do Sul, que também foi ofendida verbalmente durante o programa de rádio, a situação também está sendo avaliada. "Estamos discutindo sobre o melhor encaminhamento a ser feito, e não descartamos uma ação na Justiça", declara o coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante geral da corporação.
Na opinião do Secretário de Comunicação do RS, Paulo Fona, a atitude foi irresponsável e merece retratação. "Ele falou inverdades que mexem com a imagem da polícia local, além de ofender a todos os gaúchos."
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