domingo, 23 de agosto de 2020

Diocese “passa a mão na cabeça” e Padre Carlinda não será afastado, MP e PJC entram no caso e delegado fará oitiva por Apologia de crime

Em entrevista concedida a redação do Jornal O Diário/MatoGrossoAoVivo, bispo afirma que foi em busca da verdade e não encontrou indícios que motivem a remoção do padre Ramiro Perotto da comunidade de Carlinda.

O Bispo disse que o Conselho Episcopal se deteve apenas nas ofensas proferidas e que por tais exigiu a retratação, advertiu e o proibiu de participar de debates nas redes sociais

Apesar de diversos veículos de comunicação terem divulgado na tarde de Sexta-feira (21/08), que o Padre de Carlinda (755 km de Cuiabá), Ramiro José Perotto, teria sido afastado de suas funções por decisão da Diocese de Sinop, a qual tem por Bispo emérito Dom Canísio Klaus, presidente do Conselho Episcopal Regional Oeste II, nossa redação conseguiu uma entrevista exclusiva com o bispo que desmentiu as publicações dos demais veículos.

Conforme o Bispo informou, após reunião do Conselho Episcopal, nada será feito em termos de afastamento ou remoção do Padre do município ou de suas prerrogativas sacerdotais.

Informamos ao Bispo Dom Canísio que temos recebido diversas declarações de membros da comunidade católica inconformados com a permanência do Padre em seu posto no município de Carlinda e que tais pessoas estariam dispostas a promover um movimento exigindo o afastamento do Padre naquele município.

O Bispo disse desconhecer tal movimento e que tanto ele como o padre buscaria promover a reconciliação com tais membros revoltados caso tal movimento se apresente em desfavor do padre.

Segundo o Bispo de Sinop, ao qual o Padre Ramiro Perotto deve obediência hierárquica na ordenação católica, o Conselho Episcopal, composto de três membros, passou reunido toda tarde de ontem avaliando as “provas” contra o Padre Ramiro, e não encontrou nada além de “palavras infelizes”, das quais não justificaria o afastamento do mesmo de suas funções, ainda que a comunidade não concordasse com a decisão do Conselho.

Ainda na visão do Conselho Episcopal de Sinop, que fica a 270 km de Carlinda, as únicas penalidades que o Padre Ramiro deve receber são “advertências verbais”, nas quais o mesmo deve se abster de se manifestar em futuras conversas sobre assuntos polêmicos, e que o mesmo faça uma retratação de suas palavras e se desculpe perante aqueles que se sentiram ofendidos, coisa que já foi feita na tarde de ontem.

Ministério Público e Polícia Civil irão apurar possível apologia de crime

Em entrevista gravada a TV Nativa (Record de Alta Floresta), o Padre Ramiro Perotto sustentou sua posição, com relação a vestimenta das crianças de hoje em dia, que na opinião do Padre são “erotizadas” por meio das roupas que vestem e com isso se acabam provocando os adultos para os adultos a cometerem tais crimes, como o estupro de incapazes.

As sustentação das declarações caíram como uma bomba no meio jurídico que acabou provocando a interferência do Ministério Público Estadual, na pessoa da Promotora de Justiça, Dra, Laís Liane Resende, na tarde desta Sexta-feira, que requisitou ao Delegado Pablo Carneiro a instauração de Termo Circunstanciado de Ocorrência que irá intimar o Padre Ramiro Perotto a prestar depoimento sob a acusação de Apologia ao Fato Criminoso, conforme o Artigo 287 do Código Penal Brasileiro.

Na lei de Crimes Cibernéticos também é possível enquadrar tais condutas como incitação ao crime, tendo como principal fator que os usuários de redes sociais não imaginam que publicar comentários ou fotos na forma de apologia criminal pode acarretar um processo, com pena de detenção que varia de três a seis meses ou multa.
Incitar é estimular a prática de um determinado crime de forma pública, ou seja, não existe um número determinado para o público alvo que se pretende atingir.

Já a apologia, ao contrário, é defender um fato criminoso, ou seja, um crime já ocorrido, ou o autor de um crime, também de forma pública.

Conforme artigos 286 e 287 do Código Penal, para ambos a pena é de detenção, ou seja, não existe a privação da liberdade em um regime fechado e haverá o enquadramento apenas em regime semi-aberto ou aberto.

O ponto principal que demonstra a massiva prática desses crimes se dá pelo desejo da sociedade em fazer justiça com as próprias mãos, por não acreditar em uma repressão penal efetiva pelo Estado. Logo, discursos de ódio são inseridos todos os dias na internet.

Também, o fato de as pessoas olharem para a internet com um “ambiente sem leis”, e confundirem os limites da liberdade de expressão, colaboram imensuravelmente para que tais crimes sejam praticados.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: