sexta-feira, 1 de março de 2024

VÍDEO | Pesquisa de 12 mil reais que exalta governo Chico Gamba tem vínculo direto com cacique do União Brasil

Já dizia o célebre escritor e cronista Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra!” Mas, ainda assim existem aqueles que insistem em subestimar a inteligência alheia e apelar para os abusos politiqueiros.

Após o susto, causado por uma apoteótica e inusitada matéria, produzida por um site da capital e veiculada simultaneamente em sites e até canais de tv local, divulgando a pesquisa de forma extemporânea  que surpreendeu a população de Alta Floresta na manhã desta Quinta-feira (29/2), apontando que a aprovação do prefeito Chico Gamba (União-Brasil), teria atingido a incrível margem de 92,3%, um feito digno de verdadeiros Pop-Stars da política, a exemplo de um Nelson Mandela ou o do atual presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que já se tornou uma lenda viva por estar transformando seu país num oásis da segurança pública mundial.

A empresa, denominada “PercentBrasil” e que realizou a pesquisa, ao custo de R$ 12 mil reais,  situa-se em Cuiabá, exibe com orgulho em seu site, na galeria de clientes vips, o nome do senador Jaime Campos como um de seus principais clientes parceiros, o que acaba colocando em xeque a credibilidade do resultado da pesquisa.

Além disso, a PercentBrasil se deu o trabalho de tirar do próprio bolso os 12 mil reais, para fazer a pesquisa, além de toda a logística da execução, com custos de viagens, hospedagens e alimentação de pessoal.

Importante observar também  que dentre todos os políticos, na galeria de apenas 10 clientes, onde também estão presentes a Assembleia Legislativa, a prefeitura de Cuiabá e o governo do Estado, e tão somente o nome de Jaime Campos se destaca como digno de ser o único político lembrado, deixando claro que este deva ser um cliente pra lá de especial para a PercentBrasil.

VEJA O VÍDEO DA PÁGINA OFICIAL DA EMPRESA “PERCENTBRASIL”:

CLIQUE AQUI E ACESSO O SITE DA PERCENTBRASIL

A pesquisa foi devidamente registrada no TRE/MT, sob o número MT067092024, e segundo a técnica estatística responsável Nathany Luzia de Oliveira, cerca de 600 pessoas foram entrevistadas no período de 3 dias (23 à 26 de Fevereiro), e nesse espaço de tempo, foram percorridos basicamente todos os bairros de Alta Floresta, separados em 4 eixos (1,2,3 e 4 – conforme mapa apresentado ao TRE/MT), com pesquisadores contratados que fizeram visitas residenciais “in loco”, porém, não há evidências ou confirmação popular de tais equipes de entrevistadores presentes nos bairros mencionados na pesquisa registrada junto ao TRE/MT.

TRECHO DO DOCUMENTO CONSTANTE NO TRE/MT – “As entrevistas serão realizadas através de questionário estruturado aplicado em uma amostra probabilística dos eleitores de Alta Floresta estado de Mato Grosso, sendo os indivíduos abordados em residência e realizados de forma pessoal.”

RELAÇÃO DOS BAIRROS PESQUISADOS PELA PERCENT BRASIL: (6 PÁGINAS)

Pesquisa 1

Além disso, a pesquisa foi apresentada junto TRE/MT como sendo basicamente de consulta de intenção de votos para “prefeito e vereadores”, incluindo no questionário, os nomes do já declarados pré-candidatos Chico Gamba (União), Oliveira Dias (PL) e Mequiel Zacarias (PT) para o pleito de 2024, além de espaço para a sugestão de nomes de prováveis vereadores a serem eleitos. Porém, após a realização da pesquisa, estranhamente, a empresa só fez questão de divulgar o suposto percentual da estrondosa aprovação da administração Chico Gamba, candidato do União Brasil.

Resta saber agora, como diria a vinheta do saudoso programa Globo Repórter, antigamente exibido às Sextas na Rede Globo: “quem são, aonde estão, como vivem, o que comem e onde dormem os entrevistados pela PercentBrasil?”

QUESTIONÁRIO FORMULADO PERCENT BRASIL AOS ENTREVISTADOS: (7 PÁGINAS)

Pesquisa 2

 

REGISTRO DA PESQUISA JUNTO AO TRE/MT: (2 PÁGINAS)

Pesquisa 4

 

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE PELA TÉCNICA RESPONSÁVEL:

Pesquisa 3

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: