segunda-feira, 4 de abril de 2022

Instagram da prefeitura de Alta Floresta promove propaganda eleitoral antecipada para Dep. Nininho

Para todos os efeitos a “aparição” do deputado na página do Instagram da prefeitura soaria como um ato parlamentar, porém, a fixação do slogan político no vídeo já dá o tom da propaganda eleitoral antecipada.

O que muita gente pode achar comum na dedicada demanda de recursos, máquinas, veículos, equipamentos e até emendas parlamentares, por parte de determinado deputado para certas regiões do estado, em ano eleitoral toma outro contexto e todos os pretensos candidatos acabam cometendo graves abusos, ainda que se apoie na condição de exercício de mandato.

A Lei eleitoral brasileira, recentemente atualizada com as modificações na nova “Lei das Eleições” (Lei nº 9.504 de 30/09/17), garante aos políticos em mandato que irão participar de pleitos eleitorais, a divulgação de alguns atos políticos, como no caso de deputados, senadores, vereadores e até candidatos ao executivo, porém, se a publicidade estiver carregada de alguma sugestão explícita de sua futura campanha eleitoral, passa a cometer abusos que afrontam as determinações legais.

Pois bem, a Prefeitura de Alta Floresta, em setor de comunicação, conhecido como Assessoria de Comunicação – ASCOM, dirigida por Danúbio Ferreira de Souza Santos (membro da AMAZON.LAB), mesmo sem ter qualquer formação acadêmica na área de comunicação social, anda deixando muito a desejar em matéria de entendimentos legais quanto a algumas postagens que vem inserindo em suas páginas de redes sociais, descredibilizando cada vez mais o trabalho que deveria primar pela informação correta e o respeito aos cidadãos que esperam receber apenas aquelas informações que realmente sejam de interesse público.

Caso a culpa de tais erros não estejam diretamente relacionadas aos distintos e experientes colegas jornalistas da ASCOM, como responsáveis pelas postagens, muito provavelmente eles estejam sendo obrigados por ordens superiores a postar tais absurdos, justamente para não correrem o risco de serem substituídos em seus cargos.

É muito comum nestes casos em que erros são cometidos pelos governante, na ânsia de agradar ou favorecer seus interesses, que os servidores abaixa da cadeia de comando acabem absorvendo as culpas, sob risco de perder seus cargos, que na maioria das vezes são de comissionados. 

Mesmo em ano sem eleições, já é temeroso ficar postando em canais oficiais de governos executivos, (prefeituras, governo de Estado e presidência da República), de forma a favorecer a aparição frequente de membro A ou B na condição de “parceria” do governante, pois acaba se atrelando a imagem do governante a ideia de que tal “parceiro” na verdade tem algum interesse por trás das emendas vultuosas dedicadas a certos municípios.

Na postagem é possível perceber que tanto o vídeo quanto a edição foi produzida pela equipe do deputado estadual Ondanir Bertolini (Nininho) – PSD, pois em todo período de exibição o slogan político do pré-candidato a reeleição, “Nossa Marca é o Trabalho” (ao lado da sigla partidária do Partido Social Democrático – PDS),  se mantém fixo no rodapé do vídeo e ao final ele é exibido em destaque, como forma de promover ainda mais a mensagem política eleitoral do deputado.

VEJA AQUI O VÍDEO

Além do deputado, no vídeo (postado no dia 16/03), estão presentes a secretária municipal de Assistência Social, Marinês Munhoz, e outras duas servidoras de nome Angélica e Catiane, as mesmas posam ao lado deputado para apresentar a aquisição de duas pick-up Strada para atender os Centro de Referência e Assistência Social – CRAS do município e uma Van, para atender o Lar dos Idosos, que foram conseguidas por meio de emendas parlamentares do deputado, no valor total de R$ 650.000,00. Apesar do deputado dizer que serão 3 veículos, no texto do vídeo de sua assessoria afirma que serão 4 veículos para o município.

Em sua fala a secretária de Assistência Social chama ao tempo todo de “parceiro” do município, e se diz muito feliz em “nome da população”, por poder contar com a ajuda do deputado Nininho, “nosso parceiro, ajudando “sempre” Alta Floresta, “sempre” presente em nosso município”.

Em nenhum momento durante os 01:50″ de vídeo aparece a logomarca da prefeitura ou mesmo qualquer referência de que a mídia seja de autoria do departamento de comunicação, no caso a ASCOM municipal, que usa por padrão de postagem sempre apresentar a logo do município bem como o slogam do governo municipal “Mais por nossa gente”, ficando em evidência apenas a publicidade política a favor do deputado.

Com isso, há claro entendimento de que essa possa ser a tônica do que vem pela frente no uso da máquina administrativa a favor de candidatos “parceiros” que a atual administração já esteja apoiando e assumindo publicamente na intenção de fixar na mentes dos eleitores, ainda que sutilmente, de forma economicamente desproporcional e abusiva, a imagem do deputado que pertença ao mesmo grupo  e partido político do atual prefeito Chico Gamba – PSD. Com a palavra a Procuradoria Eleitoral do Estado de Mato Grosso, na pessoa da Promotoria Eleitoral de Alta Floresta.

 

VÍDEO CONFORME ESTÁ APRESENTADO NO INSTAGRAM OFICIAL DA PREFEITURA DE ALTA FLORESTA:

 

 

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: