terça-feira, 2 de junho de 2020

Após Nota do Ministério Público de Alta Floresta servidor que foi posto pra varrer ruas é reconduzido ao cargo de origem

Desde a denúncia do servidor em Novembro de 2019, o servidor atravessou diversas situações de assédio, perseguição, retaliação até chegar ao ponto da humilhação pública na prática.

Anderson se diz alvo de represálias por parte do secretário de obras após denúncias.

O servidor Anderson Ribeiro Rholing, lotado no como auxiliar de Serviços Gerais na secretaria de Infra-estrutura e Obras do município de Alta Floresta, cuja pasta é dirigida pelo ex-prefeito Elói Luiz de Almeida, começou seu calvário emocional ao fazer uma denúncia sobre um caminhão Mercedez Benz – 1519, de propriedade do vereador, presidente da Câmara Municipal, Emerson Machado (MDB), que foi ilegalmente cedido a prefeitura com a proposta de que o mesmo fosse utilizado pela secretaria, desde que fosse realizada todas as benfeitorias necessárias para que o mesmo ficasse em perfeita condição de uso.

A denúncia, exibida por meio de redes sociais e grupos de whatsapp, no dia 5 de Novembro de 2019, caiu como uma bomba na cabeça da população que imediatamente reagiu a indecorosa negociação, que a princípio nunca foi divulgada por qualquer um dos dois lados que firmaram o pacto, mesmo havendo extrema importância de se dar publicidade a acordos que envolvam a coisa pública.

Pois bem, após ter sua imagem massacrada perante os colegas do setor de Obras, e dos demais setores por onde teve que atuar, mesmo não havendo motivação legal para ser tão duramente penalizado, o servidor não se deixou intimidar, simplesmente por que tem a convicção de que estava cumprindo seu dever de denunciar atos improbos e irregularidades praticadas agentes políticos, ainda que estes estejam acima de sua função na hierarquia do poder público.

Em sequência, o mesmo Anderson Ribeiro Rholing gravou ainda outro vídeo, em forma de denúncia e mostrou no pátio da secretaria de Obras (infra-estrutura) do município, que a maior parte da frota de caminhões em uso no município estava com seus pneus em estado degradantes de uso e acrescentou que os pneus novos colocados no caminhão do vereador Emerson Machado permaneciam no veículo, mesmo este estando estacionado no pátio da secretaria sem qualquer sinal de utilização.

Com os recorrentes atos imorais, praticados no setor da secretaria de Infra-estrutura de Alta Floresta, carregados de elementos insinuosos, que beiram a uma “pornografia”, no trato de crimes contra o erário  público, além de denotar um alto grau de tráfego de influências e favorecimento indevido por parte da prefeitura em favor do vereador Emerson Machado, que pertence ao mesmo grupo político e partido do prefeito Asiel Bezerra,  finalmente, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso, por meio da 2ª Promotoria de de Justiça Criminal de Alta Floresta, na pessoa da Dra. Carina Sfredo Dal Molin, entrou em cena para dar um basta na farra de “favores libinosos”, que estavam sendo praticados pelo trio de envolvidos, no caso o secretário de Obras, Elói Luiz de Almeida, o vereador presidente e consequentemente o prefeito municipal.

O Ministério Público, no último dia 02 de Fevereiro, instaurou o inquérito civil nº 02/2020, que visava apurar as benfeitorias contempladas no caminhão prancha, Mercedez Benz 1519, “emprestado”, do presidente da câmara municipal ao poder executivo municipal, para que fosse apurarado a relação a eventual enriquecimento ilícito, dano ao erário e violação aos princípios da Administração Pública.

Já no dia 29 de Abril, o servidor conseguiu gravar e fotografar no pátio da secretaria de Obras, a retirada dos pneus novos do caminhão do vereador, que segundo o secretário de Obras, Elói Luiz de Almeida, tinha sido solicitado pelo vereador Emerson Machado que teria pedido de volta o caminhão, mas, tanto o secretário quanto o vereador, que corroborou a “explicação” dada inicialmente pelo secretario, acabaram sendo desmentidos pelo próprio Ministério Público, em 08 de Maio, quando este, por meio de decisão judicial, do Juiz Tibério de Lucena Batista, a 1ª Vara de Justiça de Alta Floresta, que acolheu embargos de declaração e proferiu a suspensão imediata do termo de cessão celebrado entre o vereador Emerson Machado (MDB) e a prefeitura de Alta Floresta.

Na verdade, os pneus foram retirados após os envolvidos terem tomado conhecimento da decisão, que determinou a devolução do caminhão e a retirada das peças, além de tentar bloquear bens e valores nas contas do presidente da Câmara, Emerson Machado e do prefeito Asiel Bezerra.

A liminar foi concedida nos autos de uma Ação Civil Pública (ACP), proposta pelo Ministério Público por prática de atos de improbidade administrativa.

Durante as investigações, foi constatado que o parlamentar cedeu o veículo ao município em 11 de julho de 2019. O contrato foi formalizado pelo diretor de Gestão, Claudinei de Souza Jesus, também requerido na ação..

Foram decretados a indisponibilidade de bens dos dois requeridos até o valor de R$ 20.970,42 e de R$ 31.455,63, respectivamente.

Na terça-feira, posterior a retirada dos pneus, o presidente do poder Legislativo declarou durante a sessão da Câmara Municipal, que havia enviado um ofício para a prefeitura, pedindo que os pneus fossem retirados. E reclamou de perseguição política, pelo fato de ser pré-candidato a prefeito.

Já na penúltima Sexta-feira (22/05), o Ministério Público emitiu Nota Recomendatória exigindo que o servidor Anderson Rholling, fosse realocado em sua função de origem, para qual foi contratado por meio de Concurso Público desde 2013, na função de “Serviços Gerais”, da Secretaria de Infraestrutura do Município de Alta Floresta.

Mas que porém, foi removido de seu posto original sem que fosse observada a Lei Federal nº 8.112/90, Artigo 36, que estabelece que qualquer remoção, a pedido ou de ofício só poderá ser formalizada se o mesmo for realocado no âmbito do mesmo quadro ao qual pertencia.

O que também é referendado pela Lei municipal nº 382/91, artigo 58 que prevê a “remoção ou deslocamento do funcionário apenas no âmbito do mesmo quadro ou sem mudança de sede.”

O mais grave, apontado pelo Ministério Público, é que a finalidade da remoção ou deslocamento do servidor deveria atender explicitamente a algum interesse público, observando que no caso do servidor Anderson Rholing tanto a secretaria de Obras quanto a secretaria Gestão , Finanças e Planejamento, na pessoa da Sr. Elsa Maria Lopes dos Santos, que acabou sendo envolvida na história, agiram sem essa finalidade, provocando intenso grau de intimidação, constrangimento e humilhação ao servidor, com o único propósito de penalizá-lo pelas denúncias apresentadas a sociedade Alta-florestense.

Ao final da peça recomendatória, o Ministério Público recomenda em tom característico de prazo jurídico, que o “Sr. Asiel Bezerra de Araújo, no prazo de 15 dias, anule o ato que colocou o servidor Anderson Ribeiro Rholing a disposição da secretaria de Gestão, para integrar a equipe de limpeza de ruas do município, retornando ao “status quo” (função anterior).”

Além disso, o MP advertiu ao prefeito que tais atos devem ser contemplados apenas com a finalidade de interesse público, caso contrário órgão fiscalizador não medirá esforços em fixar o elemento objetivo (dolo), de modo que futuros descumprimentos implicarão em ajuizamento de demais ações e processos de improbidade administrativa.

Na manhã desta Terça-feira (02/06), o servidor foi convocado a comparecer a secretaria de Gestão, Finanças e Planejamento, e recebeu das a própria  secretária,  Elsa Maria Lopes dos Santos, o Memorando – 067/2020/DG, assinado por ela, que o reconduziu ao cargo de origem, na secretaria de Infra Estrutura, devolvendo-o conforme a Nota Recomendatória expressava ao Chefe do executivo municipal.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: