terça-feira, 9 de junho de 2020

Mais uma morte na Ala Covid-19 do Hospital Regional de Alta Floresta levanta suspeitas de ser por Corona-vírus

A imprensa local está incomodada e desprestigiada com a falta de informação interna do Grupo de Enfrentamento e secretário municipal de Saúde, sendo que muitas vezes as notícias chegam por meio de jornais da capital.

Secretário de saúde de Alta Floresta tem comunicação pífia com a imprensa local, mas, conta até “segredos” desconhecidos para a imprensa da capital.

Apesar da secretaria municipal de saúde municipal dizer que desconhece o ocorrido, o paciente morreu no último dia 05 de Junho e foi sepultado imediatamente, conforme o protocolo dos pacientes positivos para Covid-19.

O paciente, Antônio Alves Corrêa, era morador de Alta Floresta, sem nenhuma relação com o presídio municipal, e estava internado na Ala Covid-19, criada especificamente para atender apenas aos suspeitos de contaminação pelo Corona vírus.

Os exames do paciente ainda não retornaram para que se possa atestar oficialmente que tenha morrido pela doença, mas, há fortes suspeitas por parte de profissionais da saúde do Hospital Regional Albert Sabin – HRAS, que cada dias mais ficam apreensivos com a forma com que as informações tem sido sonegadas a população.

Em resposta aos nossos questionamentos, no grupo criado pela secretaria de Saúde para a imprensa se relacionar com o grupo de enfrentamento da Covid-19, o secretário de Saúde municipal, Marcelo Costa, simplesmente disse desconhecer sobre a morte do cidadão alta-florestense e completou friamente dizendo apenas que, provavelmente o mesmo seguiu o protocolo dos pacientes testados positivos:

“embalados em sacos apropriados… banhado no hipoclorito… do hospital direto pro cemitério”.

Desgastes desnecessários por falta de transparência

Enquanto a imprensa local aqui trabalha diligentemente em espírito de cooperação com a secretaria municipal de Saúde e o Centro de Vigilância Epidemiológica, pelo bem de Alta Floresta, é muitas vezes tratada mais como um “estorvo” do que ajuda, e com isso, nos últimos dias tem havido severas críticas por parte dos profissionais da comunicação de Alta Floresta pela a falta de simultaneidade e atualização contínua nas informações, demonstrando desinteresse e demora em responder até fatos já denunciados pelos próprios profissionais de saúde das unidades que estão ligados diretamente com os pacientes contaminados.

Com isso, o grupo criado no Whatsapp, originalmente para ser um canal da transparência entre a saúde a imprensa local, passou a produzir apenas publicação dos boletins diários, em alguns casos com erros, ocorrem sempre no início da noite.

Pelo sim, pelo não, este escriba faz questão de colocar aqui a sua opinião profissional, sobre a forma obtusa com a que estamos sendo tratados pelo secretário de saúde, que mais parece ter a imprensa local como um de seus agregados da secretaria e do Conselho Municipal de Saúde, onde se sabe que lá ele manda até vereador calar a boca e só se pode perguntar o que ele quer falar.

Mas, engana-se o senhor Marcelo Costa, em pensar que nós iremos nos retrair com suas manobras de evitar e desprezar o papel da imprensa que representa Alta Floresta e região, pois os próprios funcionários da saúde local envolvidos na luta diária do combate ao Corona vírus estão trazendo as informações diárias, por vezes ocultadas, por aqueles que deveriam ser os primeiros a convocar a imprensa e repassar com detalhes os últimos acontecimentos, mas, não o fazem sabe-se lá por que.

Na primeira morte causada pelo vírus, fomos o primeiro veículo a noticiar e a questionar o secretário de saúde no grupo sobre a veracidade da denúncia da morte de um paciente no Hospital Regional (na ocasião não sabíamos que se tratava de um detento), apresentada por fontes internas ao HRAS, na época o secretário negou veementemente que pudesse ser morte por Covid-19, após 10 dias veio a confirmação mediante o teste realizado e encaminhado ao LACEN.

Além disso, ninguém sabia que havia sido criado uma Ala Covid-19 dentro do Hospital Regional, coisa que só ficou confirmada após pressionarmos o secretário e exigirmos que fosse esclarecido qual o grau de segurança exercido para com os profissionais da saúde que ali estavam atuando sem que a sociedade soubesse que um setor do hospital já estava designado a  atender pessoas com alto grau de contaminação. E tudo só ficou revelado após o trabalho do jornalismo investigativo da imprensa local, caso contrário talvez até hoje nada disso teria sido revelado a sociedade alta-florestense.

Nesse ponto da questão, chegamos a duas pergunta que não pode ser negligenciada pela secretaria municipal ou estadual de saúde:

  • Por que esconder o que pode ser denunciado a imprensa?
  • Não seria mais lógico repassar a imprensa todos os casos, confirmados ou não, para que haja maior confiança da população?

Na minha singela opinião, ao agir assim, o secretário Marcelo Costa demonstra total falta de confiança e desconhecer que a principal função da imprensa é “fazer a manutenção da sociedade”, ir aonde o povo não pode, dar voz aos que não podem gritar e mostrar aquilo que compromete os interesses dos que se acham “acima da lei”.

Com isso, o secretário demonstra que não possui o princípio da transparência e do respeito arraigado em sua pasta, fator imprescindível em uma secretaria que lida com sobrevivência vidas humanas, que tem por direito constitucional a necessidade de ser informada sem negligências, descaso ou indiferença.

Embaraços com a imprensa estadual (Texto adicional)

Na tarde de ontem, o site RDNews, da capital Cuiabá, em matéria redigida pela jornalista Keka Werneck, afirmou que o secretário não quis revelar informações sobre o local aonde serão instalados os detentos com suspeita de Covid-19, segundo ele por questões de segurança, além disso uma enorme confusão foi causada pelas informações mostrada na matéria que afirmavam o número de 66  detentos que testaram positivo para a doença, enquanto o secretário afirmou que seriam apenas 54, uma diferença de 12 casos que só foram esclarecidos pela própria repórter. 

Acontece que, além de fazer a entrevista com o secretário a mesma se valeu de dados apresentados pela Secretaria Estadual de Saúde  – SES, que diferente do secretário já tinha computado o número de 66 casos nos detentos de Alta Floresta, demonstrando uma preocupante falta de sintonia entre o Estado e a o município e vice e versa.

Para o secretário Marcelo Costa, houve distorções na matéria publicada pela repórter Keka Werneck, e afirmou que teria pedido a retratação da matéria junto ao veículo de comunicação.

Em contato com a jornalista Keka Werneck, a mesma garantiu que até o presente momento nem o secretário e nem a secretaria entraram em contato com a redação do site ou com ela para contestar o teor da notícia.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: