terça-feira, 30 de março de 2021

70 ÓBITOS | Diretora de Saúde do município de Alta Floresta "pede pra sair", após crise instalada por secretário

Após os últimos episódios envolvendo secretário municipal de Saúde Lauriano Barella, com indícios de crime de “infringir determinação do poder público e propagação de doença contagiosa”, uma crise sem precedentes se instalou na direção do setor de vigilância sanitária.

Flávia Alves sai da direção da Saúde no município com resultados negativos.

Até a presente data, nenhuma outra autoridade competente do município se manifestou sobre o caso, não ser o delegado Vinícius Nazário, que por força de uma denúncia feita por um morador, teve que intimar o secretário a depor sobre sua conduta imperdoável de manter agenda de trabalho, mesmo após tomar conhecimento de estar contaminado por meio exames laboratoriais do IFMT/Alta Floresta.

Após o episódio, a própria secretaria de Saúde ficou totalmente desmoralizada, atingindo em cheio o setor que controla e administra todas os pacientes monitorados pelo Vigilância Sanitária, segundo servidores, não raro é ouvir de alguns pacientes que, “se o próprio secretário não precisou cumprir as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, por que é que a população tem que obedecer?”

Estas e outras ações catastróficas levaram a enfermeira, Flávia Alves de Oliveira Melo (que é concursada pelo município), abrir mão de seu cargo como Diretora Geral de Saúde Pública, responsável por todo andamento da Vigilância Sanitária Epidemiológica e Ambiental no município, estão o desmonte da estrutura criada pela gestão anterior, que vinha obtendo êxito no controle e combate a pandemia, tanto que no ano passado, mesmo com as eleições realizadas em Outubro, aonde foram permitidos vários focos de aglomerações e até mesmo festa de comemoração pela vitória eleitoral, não houve qualquer aumento de casos, pois existia equipes técnicas qualificadas, treinadas que mantinham o equilíbrio do caos que ameaçava o município.

Na gestão anterior, o então secretário Marcelo Costa com sua equipe, tinha acumulados 26 óbitos de Março de 2020 à Dezembro de 2020 (10 meses), enquanto agora, em menos de 3 meses já houve 44 óbitos, tendo o município alcançado a assustadora marca de 70 mortes pela doença, alguma delas em condições de preocupante imperícia, como no caso da primeira idosa que faleceu na porta UBS – Ana Nery, sendo que já sido encaminhada para casa em situação de pós operatório e comprometimento pulmonar.

E tem mais, o caso pode ser tão mais sério do que parece, que se for provado que tais medidas comprometeram e prejudicaram o funcionamento do que antes estava sob controle, as mortes ocorridas após o início da gestão atual na pasta da saúde no município podem muito bem ser atribuídas aos atuais responsáveis, que não souberam ou não quiseram manter aquilo estava sob controle e, poderia ter evitado tantas mortes de Janeiro pra cá. Cabe agora as autoridades competentes, se levantarem para investigar os fatos aqui apresentados.

Os vários motivos que levaram o pedido de afastamento, por parte da enfermeira, acabam por comprometer ainda mais a já mal conduzida pasta do secretário Lauriano Barella, que neste momento encontra-se completamente sem rumo no que tange o controle e o aumento da Pandemia no município, com mortes crescentes a cada semana.

A visível mudança na estrutura de funcionamento, nas frentes de enfrentamento a pandemia e a falta de previsibilidade administrativa, como no caso da oferta e contratação de médicos e enfermeiros com salários mais atrativos, fizeram toda diferença no crescimento de casos e consequentemente no aumento de mortes em Alta Floresta, especialistas que participaram da gestão anterior, consultados por nossa Coluna informaram que não houve, desde o início, qualquer interesse da equipe do novo secretário em manter aquilo que já estava dando certo e que isso foi uma inconsequência determinante no agravamento da contaminação, e o que levou ao descontrole que hoje se vê no município e até mesmo na região de Alta Floresta, que como cidade pólo acaba por afetar os municípios vizinhos com suas ações.

Com a saída da enfermeira Flávia Alves, o município de Alta Floresta se vê agora em uma sinuca de bico, pois além de ter que absorver o fato de que não ter conseguido dar conta do recado, ainda não se sabe qual o nome adequado para preencher e resgatar o controle da situação que, caso não seja preenchido logo, tende a desandar de vez com sérias consequências causadas a saúde pública municipal.

O QUE DIZ A EX-DIRETORA DE SAÚDE 

Procurada por nossa Coluna, a enfermeira Flávia Alves, diz estar com a sensação de dever cumprido, tendo deixado o cargo desde ontem, Segunda-feira (29), e que a razão de sua saída é de ordem pessoal, não havendo qualquer motivo relacionado ao convívio com o secretário Lauriano Barella, disse também que durante sua permanência no cargo a ordem da gestão Chico Gamba era “valorizar os efetivos”, sem citar a categoria dos contratados.

Apesar de ter dito que a principal razão de sua saída era pessoal, a enfermeira também citou “vários fatores” que a levaram a tomar a decisão de deixar o cargo, elencando o cansaço, sobrecarga de trabalho e outras “várias situações” que acabaram forçando-a tomar a decisão neste momento.

Com relação as mudanças aplicadas durante o período que esteve a frente da direção da Saúde, ao lado do secretário, a enfermeira disse que, durante o processo de “reorganização”, havia excesso de pessoal nos setores de atendimento, fiscalização e monitoramento, e que a manutenção de pessoal deixou vários servidores indispostos a assumir outros papeis, por não concordarem com a mudança.

Segundo a ex-diretora, com a visível insatisfação dos servidores demonstrada com a mudança, a maioria solicitou a saída “por conta própria”, sem que a secretaria tivesse participação nos desligamentos.

Para a ex-diretora, antes da sua chegada, havia acumulo de informações, o fluxo do registro era diferente e o atendimento da população estava deficiente, com baixa de médicos e muitos pacientes para serem atendidos, apesar disso, mesmo com a saída espontânea de pessoal que não aceitou a mudança de setor, a única solução foi aguardar  a substituição dos que saíram para suprir no atendimento da população, e que em alguns casos, estes desfalques foram supridos por outros profissionais da mesma categoria, sem revelar quantos.

A enfermeira justificou que em parte o aumento dos casos se dá pelo surgimento da nova “variante” do vírus que fez os casos dispararem, tendo ocorrido um pico a partir de Janeiro, associado a redução de pessoal a evasão da folha e a concessão de férias a alguns profissionais afetaram o funcionamento da saúde municipal.

Perguntada se já tinha tido experiência administrativa no setor da Saúde, a ex-diretora informou que teve especialização em gestão pública e antes de assumir o papel de diretora geral, fazia a gestão de um PSF do município.

O convite para assumir a pasta que hoje está vaga, segundo a enfermeira, foi feito pelo próprio secretário de Saúde, e que sempre houve um relacionamento profissional harmonioso entre eles, sendo que não há para ela nada que desabone a pessoa do secretário durante o período que esteve no cargo em questão.

Com relação ao remanejamento de todo pessoal e equipes, a enfermeira disse que todas as escolhas e mudanças foram de responsabilidade exclusiva dela, sem qualquer ingerência do secretário, que sempre deu total autonomia para tal.

Perguntada sobre o excesso de enfermeiras deslocadas (7), para atender ao secretário como uma espécie de conselho administrativo, disse que não comprometeu as unidades desfalcadas, mesmo por que, sendo substituídas as efetivas por outros profissionais contratados posteriormente.

Sobre a diminuição do contingente e equipe de controle no aeroporto e rodoviária, a enfermeira disse que devido a diminuição de voos e viagens terrestres, em consequência da pandemia, não se fez necessário mais uma equipe completa, mesmo por que, a doença já estava “circulando” pelo município, mas, disse que provavelmente a nova diretoria deverá tomar providências quanto a isso, devido ao protocolo, o plano de contingência e o novo decreto do Estado.

Por fim, a ex-diretora disse que não sabe quem seria a pessoa cotada para substituí-la na função de tamanha responsabilidade, porém, perguntada se mencionou possíveis nomes como opção ao secretário a mesma garantiu que sim, mas, não quis revelar quais seriam.

ATÉ QUANDO AS AUTORIDADES FARÃO VISTAS GROSSAS?

Enquanto isso, o Ministério Público do Estado, Conselho Municipal de Saúde e os nobres vereadores do município até hoje não emitiram uma providência sobre as negligências demonstradas pela pasta da saúde e seu secretário, que na verdade de saúde nunca entendeu nada, pois com formação acadêmica voltada para o ramo contábil acabou se tornando o homem errado, no lugar incerto, e o resultado está aí a olho nú para que todos percebam.

A maioria dos vereadores, preocupados em asfaltar ruas e com emendas que não são aplicadas, enquanto vidas podem estar sendo ceifadas por excesso de ações incompetentes e ineficazes, como no caso da aplicação de tratamento precoce, o qual a secretaria municipal adotou um protocolo “fantasma”, que detém uma lista de remédios dos quais quase ninguém leva pra casa, e que mais transparece inércia e inoperância do que ações práticas para salvar a população na prevenção da doença. 

Acontece que tal permanência inapta a frente da secretaria de saúde, vem resultando em uma série de problemas e negligências que podem impactar em cheio a vida de milhares alta-florestenses pela falta de conhecimento e planejamento necessário para gerir a pasta da saúde em plena pandemia da Covid-19.

Uma das medidas contraproducentes e prejudiciais que o atual secretário tomou assim que assumiu a pasta foi retirar da frente de combate ao Corona vírus cinco enfermeiras formadas, para atuarem como uma espécie de conselheiras da sua gestão, desfalcando os posto de saúde que tiveram uma redução no número de profissionais para atendimento da população.

Na gestão anterior, quando o então secretário municipal era Marcelo Costa, ele dispunha de apenas  2 enfermeiros nestas funções de auxiliá-lo, mas, o atual secretário puxou mais 5 para garantir suas ausência de conhecimento, ou seja, ao todo são 7 profissionais de enfermagem, especializados em atendimento médico que atuam como uma espécie de secretárias particular do gestor da saúde, justamente em um período aonde a própria secretaria municipal reclama que está praticamente impossível de se contratar médicos e enfermeiros capacitados.

As pressões internas e os métodos nada ortodoxos adotados pelo secretário na maneira de conduzir a crise que a pandemia instalou no município, são algumas das causas que fizeram a enfermeira Flávia Alves a entregar o cargo de diretora geral da saúde, apesar dela negar, pois há informações de que o secretário não aceita ser contrariado e por essa razão desmontou várias frentes de serviços que já vinham dando resultados na gestão anterior que mantinha controlada a taxa de contaminação do vírus.

Entre essas medidas preventiva e de controle, estavam barreiras sanitárias efetivas da rodoviária e aeroporto, que dispunha de duas equipes com testes rápidos todo aparato para receber e monitorar a entrada de visitantes e pessoas em viagem no município, sendo que hoje apenas uma pessoa permanece nos locais apenas para simular uma fiscalização e, quando muito o servidor designado fica apenas cumprindo horário sentado no banco de espera sem ter condições e insumos para abordar qualquer passageiro que chega ao município.

Outra obra do desmonte causado pelo secretário, foi que o setor de monitoramento foi reduzido e comprometido com a saída de profissionais que já vinham desde o começo atuando com sucesso, dando a devida assistência as centenas de casos que hoje não estão sendo acompanhados com a mesma frequência, mesmo por que falta pessoal treinado para fazê-lo.

Segundo nossas fontes revelaram, o fato de ser cunhado de um dos filhos do deputado estadual Ondanir Bortolini (Nininho – PSD), partido que estava coligado ao prefeito Chico Gamba durante sua campanha eleitoral, seria a única razão plausível da indicação e permanência do secretário Lauriano Barella no cargo de secretário atualmente, pois suas competências técnicas e aptidões acadêmicas não correspondem em nada as necessidades que o setor da saúde exige neste momento. Fazendo uma analogia por baixo, é mais ou menos como se tivéssemos um cozinheiro para cumprir o papel de um astronauta no controle de uma missão espacial de vida ou morte. Durma-se com uma ópera dessas…

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: