sexta-feira, 19 de março de 2021

Morte de mulher com Covid em posto de saúde de Alta Floresta levanta dúvidas quanto ao atendimento médico aplicado

QUEM VAI RESPONDER POR ISSO? – 

Responsável pela pasta da Saúde no município, o secretário Lauriano Barella, em recente entrevista afirmo que só estariam sendo atendidos pacientes até o estado moderado.

A morte de uma paciente idosa, Sra. M.A.S., 76 anos, que se segundo a secretaria de Saúde, “se dirigiu” a Unidade de Saúde Básica – Ana Nery, na manhã desta Quinta-feira (19/03), já com parada cardio-respiratória, mas, infelizmente veio a falecer na mesa de ressuscitação, levantou um debate acirrado nas redes sociais e até mesmo entre a classe médica que está na linha de frente do combate a pandemia.

Em conversa com médicos e enfermeiros, que pediram para não serem citados, os protocolos adotados atualmente não vão conseguir frear a avalanche de casos que estão surgindo todos os dias, ainda mais sem um plano de ação eficaz no sentido de prevenir a contaminação da doença por meio de um tratamento precoce.

Tal medida (prevenção), se aplicada de forma consistente e imediata traria um grande impacto considerável nas filas que estão se formando na porta do único centro de atendimento no município, que centraliza todo e qualquer caso de suspeita ou já em fase inicial, e muitas vezes só conseguem atender aos que chegam ao local quando já é tarde da noite, depois de horas de espera durante o dia todo.

Se não aplicada, já no ato da consulta acaba por colocar em xeque o protocolo aplicado pela secretaria de Saúde, no controle e combate a pandemia, pois ao aguardar a análise do médico os pacientes acabam piorando em casa, além de estarem contaminando terceiros no meio social na incerteza de que estão ou não com o vírus no organismo.

A prefeitura emitiu uma breve Nota Oficial, assim que o assunto começou a circular em redes sociais, para tentar esclarecer a morte inusitada da paciente, mas, não soube explicar com clareza as condições em que a paciente chegou ao posto de saúde e o por que ela não teria sido encaminhado diretamente para o Hospital Regional Albert Sabin – HRAS, sendo do conhecimento de todos que é a única unidade de saúde em Alta Floresta habilitada para atender situações de emergências como esta.

Na Nota, a prefeitura afirma que a paciente “se dirigiu”, mas, ao mesmo tempo diz que ela estava com parada cardio-respiratória, o que levanta dúvidas severas sobre o real estado em que a paciente adentrou o posto de saúde.

Caso ela tenha sido levada por familiares, os próprios profissionais do posto deveriam indicar, ou até mesmo recusar a recebê-la, pois tem consciência de que não são a unidade de saúde adequada para tal atendimento de emergência, e caso tenha sido levada pelo Corpo de Bombeiros, obviamente, os servidores terão que explicar o por que não encaminharam a idosa ao Hospital Regional Albert Sabin – HRAS, como de praxe o fazem nesses casos extremos.

Reforçamos esses questionamentos por meio de conversa no Whatsapp com o secretário Lauriano Barella, e o mesmo se limitou a mostrar a Nota Oficial como esclarecimento final para o assunto.

Além disso, o secretário encaminhou um extenso áudio a toda imprensa para explanar as dificuldades que a crise na saúde pública municipal e nacional vem atravessando, bem como apresentar a contratação de um novo médico e como nova medida de enfrentamento a transferência de todas as atividades do UBS Ana Nery, para a Policlínica na Cidade Alta, que passará a funcionar a partir de Segunda- feira (22/03), como a Central de Atendimento de casos suspeitos de Covid-19, mas, não respondeu os demais pontos da morte da paciente dentro do Posto de saúde, tais como:

  1. Qual foi especificamente a cirurgia a que essa paciente foi submetida ?
  2. Porque deram alta tão rapidamente? Para ter mais leito disponível ?
  3. Quando essa paciente positivou quando ?
  4. Se o teste foi feito hoje, e com resultado positivo? Pois, quando se chega no posto com 1 dia de sintoma, o teste não é realizado.
  5. Se ela já era portadora do Covid por que foi mandada pra casa? Ainda mais com quadro pós-operatório, sendo retirada já morta do posto de saúde com confirmação de Covid, conforme informou a família?
  6. Como uma paciente, com 76 anos realizou uma cirurgia há 6 dias atrás e já estava em casa?
  7. Quem vai responder direta ou indiretamente pela morte desta Senhora?

A familiares que perdem seu ente querido só resta a dor sem medida e a mais completa falta de informação sobre as falhas cometidas com a Mãe, que foi enviada de volta ao lar, em pleno estado pós-operatório, contaminada por Covid e se quer teve tempo de ser socorrida no local apropriado.

 

 

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: