sexta-feira, 12 de maio de 2023

Prefeito de Alta Floresta chama jornalista de "Bosta" em programa e fala "Vem pra fora se for homem"..

Na data de hoje, 12 de maio de 2023, ocorreu um incidente incomum durante o programa matinal apresentado pelo jornalista Oliveira Dias, no programa Ponto a Ponto, na Rádio Bambina FM, em Alta Floresta.

O prefeito Chico Gamba (PSD), perdeu a compostura e se envolveu em uma acalorada discussão ao vivo, durante o programa, enquanto o jornalista lia mensagens de ouvintes sobre um bolo gigante que a prefeitura planeja fazer, em comemoração ao aniversário da cidade. O bolo teria 1.034 kg e custaria R$65.142,00, valor que já havia sido licitado, para a comemoração dos 47 anos de Alta Floresta no próximo dia 19 de Maio.

Em um dado momento, o prefeito ficou visivelmente irritado e começou a culpar o jornalista pelas críticas recebidas através do Whatsapp, proferindo ofensas e desafiando-o para uma briga física.

Em áudios gravados por populares que estavam na audiência do programa, percebe-se o momento que o prefeito começou a se desequilibrar com o jornalista e este pediu que ele “voltasse pro gabinete”,  e foi o que bastou para que o prefeito explodisse de forma autoritária, agressiva e hostil contra o jornalista e sua irmã, Wendy Oliveira, produtora do programa Ponto a Ponto.

No auge da discussão ouve se o prefeito pronunciar a palavra “Bosta”, ao que foi prontamente rebatido pela irmão do jornalista e comentarista do programa, que estava presente no estúdio. A tensão no estúdio aumentou, com outras pessoas se envolvendo na discussão.

Após a saída do prefeito, o jornalista desabafou, afirmando que havia apoiado o prefeito na campanha de 2020, caminhando lado a lado até a vitória, e que jamais esperava que um dia o prefeito Chico Gamba o trata-se com tamanho desrespeito e desaforos.

Em outro ponto, o jornalista lembrou que já havia ouvido falar de sua propensão à violência, quando do episódio em que quase saiu no tapa com o vereador Zé Eskiva (PL),   no ginásio de esportes do município, na ocasião da abertura de jogos escolares em 2022, quando então o vereador foi proibido pelo prefeito de carregar a tocha olímpica que já havia sido combinado com a secretaria de esportes municipal.

Lembrou também que outra ocasião o prefeito Chico Gamba, ali mesmo nas dependências da Rádio Bambina, o prefeito já havia promovido uma briga e “apontado de dedo” a cara da irmã do jornalista, ofendendo-a e ameaçando partir pra cima na tentativa de invadir os estúdios da rádio.

Ao final do programa, o jornalista Oliveira Dias, pontuou que inicialmente foi chamado de “Bosta” pelo prefeito e que estaria prestando um boletim de ocorrência – B.O. na Delegacia de Polícia Civil, contra a pessoa do prefeito Chico Gamba, assim que terminasse o programa.

OUÇA O ÁUDIO DE TRECHOS GRAVADOS POR POPULARES:

 

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: