segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Empresa de gaveta fez pesquisa que coloca Chico Gamba em primeiro lugar

A história começou a tomar contornos suspeitos a partir do momento que se verificou que a empresa que fez a pesquisa, não foi encontrada no endereço citado no cartão de registro do CNPJ, e no local da mesma funciona apenas um salão de beleza e estética.

A residência onde deveria funcionar a empresa de pesquisas é uma salão de estética.

Nossa reportagem teve acesso a documentos que comprovam que a empresa, MGS “MARKTING” E DADOS (Nessa grafia mesmo), registrada sob o CNPJ – 10.607.783/0001-20, de propriedade do Sr. Mercio Gomes da Silva, (servidor do setor de comunicações da prefeitura de Colíder), e que deveria estar estabelecida legalmente na Rua Cuiabá, 465, no centro do município de Colíder (600 Km de Cuiabá), não passa de uma ficção e em contato com a moradora do imóvel, a mesma confirmou que há muitos anos atrás houve tal empresa no prédio indicado, mas que agora todo atendimento é feito pelo próprio empresário no prédio da prefeitura de Colíder, sendo a prefeitura o local de referência para se localizar o empresário, não repassando nenhum outro endereço comercial.

A referida empresa de pesquisas e dados, procurada por nossa produção para tomada de preços de pesquisas, alegou que foi contratada por um portal de notícias, também do município de Colíder e que há uma espécie de “parceria” entre as duas empresas, sendo que o portal é que seria o financiador de 100% da pesquisa, bem como o único interessado na divulgação da mesma.

Quanto ao custo de R$ 3.000,00, o próprio dono da agência de pesquisas confirmou que está bem abaixo do mercado, e nas palavras do próprio Mercio Gomes uma “pesquisa monitorada”, do mesmo porte, sairia por R$ 8 mil reais (mais barata), enquanto a “pesquisa registrada”, sairia ao custo de R$ 20 mil, sendo que a duração das mesmas seriam de dois dias de trabalho, com a possibilidade de ser entrevista 350 à 380 pessoas.

Na referida pesquisa registrada promovida em Alta Floresta, o resultado final apontou o candidato da Coligação “Pra Frente Alta Floresta”, Valdemar Gamba (Chico Gamba), com 26,22% na liderança, seguido do candidato da Coligação “Um novo tempo”, Delegado Vinícius Nazário, com 16,76%, sendo 15,41% (NS – Não sabem), O candidato Robson Silva, da Coligação “Rumo ao Futuro”, com 15,14%, o candidato Dida Pires, da Coligação ‘O futuro está em nossas mãos”, com 14,32%, e o candidato Rogério Colichio (PT), com 4.86%.

Ao explicar sobre a diferença de preços nos valores, que no caso da mais barata seria de 5 mil reais (150% a mais do valor pago), o dono da empresa alegou que o portal Nortão OnLine bancaria a diferença do valor, pois seria um “prestador de serviços” do portal, não revelando a fonte da origem do recurso original dos 3 mil reais.

Para a pesquisa de Alta Floresta, o proprietário da empresa afirmou que está realizou uma “pesquisa registrada” (que deveria custar 20 mil), ou seja, pelo valor de tabela cerca de 17 mil reais a mais do que foi paga para empresa contratante, para que o mesmo afirma ser um parceiro profissional.

Além da discrepância de preços, há que se observar que os valores de mercado, diga-se de passagem bem competitivo, com diversas empresas do ramo já instalada pelo Estado, servem para custear o pagamento do profissional técnico acadêmico responsável, que nesse caso é um estatístico, e no caso da pesquisa de Alta Floresta foi a Sra. Rosane Coelho da Silva Sales, registrada no Conselho Regional de Estatísticos – CONRE – 8233 – A, conforme consta em documento registrado junto ao Tribunal Regional Eleitoral – TRE.

Para nossa produção, o empresário declinou da proposta de realizar uma pesquisa em Alta Floresta, pois segundo ele, há uma grande demanda de pedidos e os prazos já se esgotaram desde o último dia 6 de Novembro, porém, não exitou em repassar o nosso contato para colegas de profissão que poderiam realizar o serviço desejado.

LIMINAR DEFERIDA CONTRA PESQUISA SUSPEITA

Após a divulgação da pesquisa, registrada no TRE sob o nº00284/2020,  que foi divulgada ontem (Domingo – 08/11), a Justiça Eleitoral, na pessoa do Juiz Antônio Fábio Marquezini, a empresa e o empresário responsável foram notificados judicialmente para prestar esclarecimentos no prazo de 48 horas, pois além do valor exorbitantemente menor do que o praticado no mercado de análises estatísticas, coleta de dados e pesquisa de opinião pública, a empresa estaria ferindo a Resolução nº 23.600/2019, nos termos  da indicação da fonte pública dos dados na seleção do perfil dos eleitores, a não amostragem dos nomes dos candidatos em disco, a fim de não induzir o entrevistado na escolha e a não indicação dos recursos financeiros empregados na campanha.

O pedido de liminar foi parcialmente acatado pelo juiz eleitoral de Alta Floresta, Antônio Fábio Marquezini, a pedido da Coligação: “O futuro está em nossas Mãos” (Representada pelos partidos PDT e Cidadania), que determinou o prazo de 48 horas, a partir de hoje (09/11), sob pena de aplicação de multas diárias no valor de R$ 10 mil reais até o período de 20 dias e da impugnação da pesquisa realizada.

Além disso, a empresa deverá apresentar o nome do estatístico responsável acompanhado da assinatura de sua certificação no CONRE, a origem dos recursos despendidos para a pesquisa, ainda que realizada com recursos próprios, a metodologia e a fonte pública de cada entrevistado para seleção dos perfis dos eleitores que foram pesquisados.

EMPRESÁRIO É SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL E UTILIZA TELEFONE DA PREFEITURA PARA CONTATOS DA EMPRESA

Além de não possuir sede própria uma descoberta intrigante feita pelo departamento de investigação jornalística, mostra que o telefone da empresa apresentado na nota fiscal emitida pela prefeitura municipal de Colíder, de nº (66) 3541 1112, pertence a prefeitura municipal do município, indicado mais propriamente como sendo do gabinete do prefeito municipal.

TELEFONE DA EMPRESA CONSTA NA LISTA COMO SENDO DO GABINETE DO PREFEITO DE COLÍDER:

TELEFONE NA NOTA FISCAL EMITIDA PELA EMPRESA QUE FEZ A PESQUISA EM ALTA FLORESTA:

TELEFONE EM DOCUMENTO OFICIAL DA PREFEITURA DE COLÍDER HÁ MAIS DE CINCO ANOS:

Outro fato pra lá de espantoso, é que o empresário atendeu a nossa produção, por volta das 10:40hs da manhã, em horário que deveria estar trabalhando no setor de comunicação da prefeitura, em um posto de gasolina no centro da cidade, e no dia que fomos recebidos o mesmo estava chegando de viagem do município de Matupá, sem dizer ao certo se estava a serviço da prefeitura de Colíder.

 Resta saber se a empresa do referido Instituto de Pesquisas realmente possui sede própria, o que deveria já constara no registro junto a Junta Comercial do Estado de Mato Grosso – JUCEMAT, que tem critérios rigorosos quanto a localiza e ao funcionamento de empresas que atuam comercialmente, pois o endereço no qual se mantém no endereço cadastrado até hoje funcional uma clínica de estética facial.

PUNIÇÕES CRIMINAIS

Caso a empresa e seus representantes, não apresentem todas os esclarecimentos e justificativas legais até o prazo máximo de 20 dias poderão até serem responsabilizados criminalmente, e incorrerem em crime de desobediência previsto no Código Eleitoral Brasileiro, nos termos do Art. 347.

PESQUISA SENDO PULVERIZADA NOS BAIRROS

Além disso, a população de Alta Floresta está recebendo em seus endereços milhares de impressos com a publicação dos resultados da referida pesquisa feita pela empresa de gaveta e com certeza os menos orientados serão fortemente influenciados pelos números ali aplicados, os quais estão sendo questionados pela justiça eleitoral, durma-se com uma trovoada dessas.

DOCUMENTO DA RECEITA QUE MOSTRA ENDEREÇO DA SUPOSTA SEDE DA EMPRESA:

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: