sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Promotoria Eleitoral flagra e desmonta reunião política de Robson Silva com servidores municipais em comitê

Acompanhada da Polícia Civil, a  Promotoria de Justiça Eleitoral, compareceu de surpresa ao evento após denúncia de convocações sendo realizadas em grupos de trabalho de servidores subordinados a secretaria de educação de Alta Floresta, Maria Lunar de Freitas Portão.

Há pouco menos de 9 dias para as eleições municipais em todo país, as reuniões, de caráter quase que obrigatório ocorreram em sequência nos dias 04 e 05 de Novembro, sempre no mesmo local, determinado pelas lideranças da prefeitura que em tom autoritário impeliam os servidores a comparecerem a uma reunião aonde seriam “recepcionados” pelo candidato a prefeito, Robson Silva, e que ninguém deveria faltar, além de repassarem a convocação aos demais servidores que pudessem avisar.

O local da reunião política entre o candidato e os servidores foi em uma fábrica de Biodiesel, localizado na Vicinal Leste (MT – 325) – Setor das Araras,  de propriedade do candidato, que para essas eleições foi transformada em Comitê Central da campanha, estrategicamente bem retirado do centro da cidade, obviamente para se afastar os curiosos, e de onde se abastecem diariamente com bandeiras e materiais de campanhas todos os demais candidatos a vereadores.

Nos áudios enviados e capitaneados, por chefes de setor de transportes, Moacyr Leal e até pela própria secretária municipal de Educação, Maria Lunar de Freitas Portão, que compareceu nos dois dias, a partir das 17:00hs, com os dois grupos em separado (motoristas e professores), as reuniões, fechadas a sete chaves, com o candidato é tratada como algo de imprescindível importância e “indispensável” para todos, pois o candidato faria considerações que seriam de “interesse de todos os servidores”.

Por fazer parte do mesmo partido, que atualmente governa o município, o Movimento Democrático Brasileiro – MDB, o qual o prefeito Asiel Bezerra e o candidato Robson Silva pertencem e detém o poder da máquina pública nas mãos, é muito fácil entender o por que tais convocações se tornam um ordem direta e indeclinável aos servidores municipais, que em outra situação, no caso de um convite de qualquer outro candidato, poderiam simplesmente não comparecer.

Segundo nossas fontes, a Promotoria de Justiça Eleitoral tomou conhecimento dos fatos, após o vazamento do áudio em que a própria secretária invocava seus subordinados, professoras e coordenadoras pedagógicas, de forma a não permitir que ninguém viesse a se esquecer do compromisso com hora e local pré-determinado, o que pode caracterizar abuso de poder político tanto do candidato, como da secretária de educação.

ABUSO DE PODER POLÍTICO

O crime eleitoral, de abuso de poder político, ocorre nas situações em que o detentor do poder se vale de sua posição para agir de modo a influenciar o eleitor. Caracteriza-se, dessa forma, como ato de autoridade exercido em detrimento do voto, nesse caso, se dá também pelo fato de que a grande maioria dos servidores que ali compareceram não foram por livre e espontânea vontade, mas, sim coagido pela obrigação de, cumprir uma ordem dada, sob pena de até serem penalizados pelo não comparecimento.

O abuso do poder político ocorrer também, por exemplo, quando, na véspera das eleições, o prefeito candidato à reeleição ordena que fiscais municipais façam varredura em empresas de adversários políticos e não o façam em relação a empresas de amigos e companheiros de partido.

Os abusos do poder político e econômico são condutas ilegais praticadas nas campanhas eleitorais e levam – se comprovadas – à inelegibilidade do candidato por oito anos, entre outras punições, de acordo com a Lei Complementar nº 64/1990, a Lei de Inelegibilidades.

Após a dispersão da reunião, causada com a chegada da Justiça Eleitoral e a Polícia Civil, funcionários da promotoria registraram em imagens a presença dos servidores que compareceram, antes de todos saírem, para robustecer a peça preparatória do suposto crime eleitoral em andamento, que já está sendo analisado pelo Promotoria de Justiça Eleitoral de Alta Floresta.

ÁUDIO DO COORDENADOR DE TRANSPORTES CONVOCANDO SERVIDORES:

ÁUDIO DA SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO CONVOCANDO OS SERVIDORES:

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: