quinta-feira, 4 de abril de 2013

Crônicas de Rondônia (04/04) - BR 364 não para de matar

Estradas da discórdia

Na Câmara Municipal de Porto Velho, na sessão desta Terça Feira (03/04), a indignação tomou conta dos vereadores pelo fato do não comparecimento de pelo menos algum representante da prefeitura municipal, nesse da secretaria de urbanismo, SEMUSB, que pudesse apresentar alguma alternativa para os moradores dos bairros atingidos pela destruição das estradas de acesso ao porto graneleiro da capital. Conhecida como Estrada da Belmont, o trecho atravessa dois bairros de grande concentração populacional que já não aguenta mais ser ignorada pelo poder público, entre estes a prefeitura e o governo estadual.

Toda cidade sofre

A questão se aprofunda ainda mais para dentro do centro da capital, pois a BR 364 atravessa o coração viário da cidade causando grandes congestionamentos com a presença de centenas de milhares de caminhões que circulam mensalmente pela rodovia até chegar ao ponto de desembarque às margens do Madeira.

E vai piorar

A grande discussão na sessão foi sobre anunciado pelos representantes do Porto, que afirmaram estar sendo esperada uma safra recorde de soja a qual deverá sobrecarregar as estrada em questão com um fluxo enorme de caminhões transportando mais de cinco milhões de toneladas de grãos. Isso é só de soja, sem se contar o milhos, a carne, os insumos e outros produtos que diariamente atravessam as estradas de Rondônia sem que estas sejam recuperadas com a mesma velocidade com que são destruídas.

“Rei da soja” será o responsável

Segundo o vereador Jair Montes, o responsável por essa grande demanda de soja será, mais uma vez, o bilionário empresário e senador Blairo Maggi, que investiu pesado nas estradas do Mato Grosso quando foi governador e hoje goza de todos os benefícios com o transporte rodoviários de sua frota. A questão é que a empresa do senador Blairo Maggi e família, A Hermasa, que surgiu da necessidade de viabilização do Corredor Noroeste de Exportação, por onde é escoada a produção de grãos das regiões noroeste de Mato Grosso e sul de Rondônia. Há anos vem se utilizando das estradas de Rondônia e carregando fortunas para fora do Estado sem deixar uma pá de piche no asfalto deteriorado por onde passam. Para os vereadores a condição em que se encontram as estradas de acesso ao Porto de escoamento abandonadas pelo poder público na capital demonstram que os grandes produtores de grãos, energia, insumos e etc, apenas vê em nosso Estado como uma “Barriga de aluguel”, onde podem tranquilamente se beneficiar “acordos” mal feitos e unilaterais em que as empresas de fora ficam com o lucro e nós ficamos com os prejuízos, população doente, estradas deterioradas e um  terminal portuário que pode ser considerada da idade da pedra.

Enquanto isso

A BR 364, mais conhecida como uma das Rodovias da Morte do Brasil, continua ceifando vidas de famílias inteiras com acidentes causados pelo péssimo estado em que se encontra em toda sua extensão. Para alguns viajantes profissionais a situação é tão crítica que já não se pode que existe algum trecho seguro para se trafegar de Vilhena a  Porto Velho. Relegados ao descaso enquanto isso, os que perderam os seus entes queridos e os que ainda vão perder assistem assistem a  tudo impotentes sem saber mais o que fazer para obrigar os políticos e as autoridades competentes a tomarem uma providência que não seja meramente paliativa como as “cascas de ovo” que são anualmente colocadas por meio de licitações emergenciais, para enganar a população de que alguma coisa esta sendo feita.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: