domingo, 25 de agosto de 2019

Vereadores de Alta Floresta aguardam respostas de requerimentos sobre "empresa de gaveta" e prefeitura se cala completamente

Após as denúncias exibidas aqui pelo Mato Grosso Ao Vivo, em nota o prefeito de Alta Floresta afirmou que a imprensa e a sociedade receberiam respostas no prazo máximo de 15 dias, mas, passados 30 dias nenhuma satisfação foi apresentada a população ou a imprensa local.

Passados 30 dias do prazo estipulado, nenhuma satisfação foi dada a sociedade

Dois dos treze vereadores do município de Alta Floresta estão cobrando desde o mês de Julho (29/07), do prefeito Asiel Bezerra (MDB), informações mais detalhadas da licitação que envolve a empresa de Cuiabá, Climatec – Climatização e Refrigeração, vencedora do certame de R$ 1.282 milhão de reais, mas, até agora não obtiveram qualquer resposta do gabinete do prefeito e muito menos do setor de licitação ou Controladoria Geral do município.

Na Nota de Esclarecimento emitida em 26/07 (Sexta), pela assessoria de imprensa do município e assinada pelo próprio prefeito Asiel Bezerra, o chefe do executivo municipal declarou que, “diante da existência de possível irregularidades”, desde o dia 25/07 (Quinta), estaria suspendendo a licitação 028/2019, e ordenando uma instauração de uma auditoria, porém, no site do Portal Transparência, desde a emissão da nota da prefeitura, nenhuma alteração ocorreu nos tramites do processo licitatório, que para todos os efeitos permanece em vigência, como se a Nota de Esclarecimentos da maior autoridade do município nem tivesse valor algum para o setor de licitações.

Não alheios aos fatos, pelo menos dois vereadores da Câmara Municipal, Elisa Gomes (PDT) e Dida Pires (PPS), tomaram a inciativa, dentro das prerrogativas legais que o cargo lhes garante, de cobrar por requerimento legislativo maiores detalhes sobre a empresa, valores repassados, serviços prestados e as reais condições do Processo Licitatório 028/2019, mas, seguem completamente sem respostas por parte do prefeito e sua equipe da Controladoria Geral do Município e do Setor de licitações.

OUÇA A FALA DO VEREADOR DIDA PIRES NA TRIBUNA DA CÂMARA NA SESSÃO DO ÚLTIMO DIA 20/08 (TERÇA):

A vereadora Elisa Gomes foi a primeira a se manifestar em razão do escândalo gerado pela pela denúncia publicada pela Coluna AF – Análise dos Fatos, do jornalista Danny Bueno, e emitiu seu requerimento de nº 035/2019, a praticamente trinta dias também, sendo este enviado a prefeitura no último dia 29/07.

No requerimento a vereadora solicita, o quanto foi repassado em valores a empresa vencedora da licitação, o nome do Fiscal de Contrato, que deveria acompanhar os serviços prestados e relatórios devidamente assinados pelo fiscal sobre os serviços realizados:

Já o vereador Dida Pires, indignado com o atraso nas informações, e já tendo corrido dez dias do prazo dado pelo próprio prefeito, sobre os “esclarecimentos” prometidos a sociedade alta-florestense, emitiu seu requerimento, de nº 054/2019, no último dia 05/08 (Segunda), solicitando a cópia integral do processo licitatório 028/2019, lembrando que a denúncia havia sido publicada pelo portal Mato Grosso Ao Vivo:

Ambos requerimentos não foram atendidos até a presente data, e provavelmente nunca serão, pois é de senso comum na Câmara Municipal de Alta Floresta que 99% dos requerimentos enviados a Prefeitura Municipal jamais são respondidos pelo chefe de equipe e ou seus secretários.

Ministério Público apura os fatos

Não obstante as constantes omissões por parte da prefeitura, para com a Câmara Municipal, o Ministério Público Estadual, na pessoa da Promotora Carina Sfredo Dalmolin, da 2ª Promotoria de Justiça de Alta Floresta, solicitou a nossa redação o envio de todos os áudios e vídeos obtidos na capital do Estado (Cuiabá), no intuito de apurar os fatos denunciados e localizar os responsáveis da empresa Climatec, que em conversa gravada afirmaram que utilizam da prática de vencer licitações e posteriormente terceirizar empresas pequenas para fazer o serviço para o qual foram contratados pelo município em questão, ao que o próprio proprietário da empresa afirmou se tratar de um negócio “de porta em porta”.

Com certeza, o MP não deixará de cobrar também a Prefeitura Municipal, quanto a auditoria e os detalhes sobre a referida licitação, que após o “sumiço” das redes sociais, do proprietário da empresa, Victor Bobadilla Bazan Junior, que sequer aparece na sede “fantasma” da mesma em Cuiabá, ou deixa qualquer funcionário para atender seus clientes, trará a tona a verdadeira história que está por trás deste emaranhado esquema de licitação com uma “empresa de gaveta”.

 

 

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: