quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Alô MP: Tô sem Chico, Tô sem água, Tô sem luz; em breve

Previsões apontam que “crise hídrica” é apenas o começo da série inevitável de crises que abalará a vida dos alta-florestenses.

As recentes revelações de relatórios da AGER/SINOP encomendadas de forma tardia pela prefeitura municipal de Alta Floresta escancararam de vez o descaso e omissão praticado pelo prefeito Chico Gamba que ao longo de todo seu mandato teve tempo suficiente para tomar maiores providências contra a empresa concessionária Águas Alta Floresta e não tomou por que não quis.

Passados 10 dias que os primeiros manifestantes interromperam a sessão da Câmara Municipal aos gritos (8/10), calando a boca dos vereadores enquanto discursavam sobre as eleições, e no dia seguinte a realização de uma audiência pública promovida pelo Ministério Público, praticamente nada mudou em relação ao reestabelecimento do abastecimento no município, aliás a situação apenas piorou, pois já são 10 dias de racionamento desumano que tem aumentado a revolta popular.

Nas redes sociais, vereadores e o prefeito tentam aparentar tranquilidade com vídeos e selfies midiáticas, tiradas ao lado de represas provisórias, do que eles chamaram solução emergencial de uma “força tarefa” para salvar a população. Sem perder tempo de se promover o prefeito faz as honras nas imagens com aparições malabaristicas se pendurando na ponta de guindaste para tentar impressionar os mais desavisados.

MACACOS ME MORDAM

Enquanto a população está passando os piores dias de sua existência, na última Segunda-feira (14/10), o prefeito se reuniu com seu Staff, para festejar a criação de um projeto idealizado por pousadas, ONGs e bancado em parceria com o município, que proporciona trilhas e pontes de segurança para macacos e outros animais silvestres atravessarem sobre as avenidas de bairros com reservas ambientais. Enquanto isso, cachorros e gatos morrem atropelados nas ruas e avenidas e são descartados as margens de vicinais do município

Após uma solenidade no Teatro Municipal Agostinho Bizinoto, uma comemoração fechada para cerca de 60 convidados, foi oferecida aos envolvidos no projeto, autoridades municipais e seus familiares. No Buffet do evento, entre os pratos principais, havia até “Cevite de Corvina” regado a bebidas e água mineral a vontade para os presentes. Vereadores, o prefeito e o vice também estavam presentes.

APRENDA A PREPARAR UM CEVITE DE CORVINA:

VOTOU POR QUE QUIS

Enquanto isso, os dias vão passando e nada de haver uma luz de esperança quanto a normalização do abastecimento de água, nos grupos de Whatsapp, vereadores ouvem calados o clamor do povo e são acuados por moradores que afirmam terem votados nos mesmos, o prefeito mesmo, só se vê em fotos repetidas de reuniões inócuas e quando é chamado a dar satisfações finge que nem é com ele que estão falando.

Na sessão da última Terça (15/10), vereadores comparam briga com a OAB municipal por se sentirem ultrajados que alguns advogados estejam se posicionando ao lado das vítimas desse caos que eles mesmo, ainda que indiretamente, ajudaram a criar. Digo isso, por que se tivessem desde o início do ano trancado a pauta, pressionado ou mesmo ameaçado o prefeito com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), hoje o povo não estaria pagando tão caro pelos erros de nossa classe política.

Não há como nenhum deles negar que não sabiam de nada, pois há pelo menos 5 anos (2019), desde a última reunião no Ministério Público os mesmos problemas foram apresentados e relevados pelo poderes públicos após caírem nas promessas enganosas da empresa de realizar os investimentos necessários. Por ser ano eleitoral, e a sua grande maioria ser aliada do prefeito, abriram mão de cumprir com seu papel de defender seus eleitores acima dos interesses econômicos privados.

CRISE ELÉTRICA VEM NO MESMO GALOPE

Esta semana, recebemos informações de que a Energisa está no seu limite no município, com uma rede elétrica sucateada e sua sub-estação sem mais condições de fornecer ampliações de redes para futuros loteamentos ou empresas de grande porte que queiram investir no município.

O caso mais emblemático é o da HAVAN que está prevista para inaugurar dia 7 de Dezembro, mas, já foi avisada pela Energisa que não poderá suprir o fornecimento de 500 KVAs que a loja vai precisar para dar início a suas atividades em Alta Floresta. A Energisa garantiu apenas 250 KVAs após muito apelo dos investidores. Caso não seja inaugurada, afetará não apenas a economia da empresa, mas, também centenas de empregos que já estão sendo recrutados para trabalharem no empreendimento.

Constantes apagões tem causado prejuízos financeiros a famílias e empresas, e a coisa fica pior a cada ano, basta dar uma chuva forte em algum bairro que a rede toda fica comprometida, confirmando assim o risco de um colapso eminente na sub-estação que há décadas não é ampliada, e nem mesmo há projetos em andamento de investimentos na rede elétrica municipal.

A “batata quente” agora está nas mãos do Ministério Público, na pasta de cidadania, que atualmente é respondido há dois anos pela Dra. Fernanda Alberton, mas, nos últimos tempos teve vários titulares que muito pouco fizeram para tanto a empresa quanto o poder executivo evitasse que atual crise tomasse a proporção que tomou. Apesar de tudo, o Ministério Público é a última tábua de salvação que a população de Alta Floresta espera que não fracasse, em nome da dignidade roubada que esse povo está passando. 

Uma grande manifestação está prevista na frente do Ministério Público, para esta Segunda-feira (21/10), às 17:00hs, para cobrar celeridade nas responsabilizações dos envolvidos na pior tragédia hídrica que Alta Floresta atravessa desde a sua fundação.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: