quarta-feira, 17 de abril de 2019

Empresário sentenciado a devolver quase 1 milhão aos cofres de Alta Floresta quer fazer "esclarecimentos" aos vereadores na Câmara


Publicado em 17/04/2019 – 

Os vereadores foram surpreendidos pelo pedido de “um empresário” que quer se explicar sobre licitações fraudulentas investigadas pelo MP e já sentenciada pelo juiz do processo.

O “pérola” foi comunicado pelo presidente da casa aos demais vereadores.

O anúncio do pedido do empresário, envolvido na Ação Civil Pública 001820-011/2018, promovida pelo Ministério Público Estadual, por meio da 2 Promotoria de Justiça Criminal, foi lido na sessão desta terça feira (16/04), pelo presidente Emerson Machado (MDB), que estendeu aos vereadores a solicitação expressada em ofício pelo empresário.

Durante a sessão, foi apresentado um projeto de lei, de autoria da presidência, que visa impedir a participação de empresas envolvidas em denúncias e ou condenadas por participar de processos licitatórios investigados com prefeituras e principalmente com o município de Alta Floresta, ao mesmo tempo anunciou a convocação para “reunião”, com o empresário investigado a portas fechadas com os seus pares.

Alguns vereadores, como o vereador Dida Pires, anunciou de pronto que não fará parte desta reunião, que considerou “um absurdo” e repudiou o pedido por parte do empresário que ele considera que “tem que se explicar é na justiça e não agora que já foi sentenciado a devolver quase um milhão de reais, querer agora, aos 45 do segundo tempo, apresentar suas “versões do crime” sobre o que já é um fato julgado”.

Em conversa com outros vereadores, tanto da base do prefeito, quanto contrários disseram estar bastante incomodados com o pedido do empresário, e que na verdade, a opinião dos vereadores não terá qualquer peso nas investigações em andamento contra o prefeito e as empresas e empresários envolvidos.

Já que o Ministério Público, na pessoa da promotora Carina Sfredo Dalmolin, já alcançou seu objetivo de reunir provas irrefutáveis que mostram ter havido um criminoso esquema de superfaturamento de materiais de construção, com responsabilização direta por atos de improbidade, da parte do prefeito Aziel Bezerra (MDB) e demais envolvidos, não cabe agora aos vereadores dar ouvidos ao que já está sentenciado liminarmente, a não ser que alguns deles queiram agir como advogados de defesa em prol dos acusados.

Resta saber agora se a maioria irá acatar a solicitação do empresário, e se a estranha reunião, que mais parece ser um pedido de “julgamento político”, será realizada, alguns vereadores informaram que a data prevista seria marcada já para a próxima semana.

Na minha opinião, melhor seria mesmo que os vereadores promovessem uma sessão específica, em forma de audiência pública, para que tal empresário se esclarecesse a toda sociedade, e que convidassem também a Promotoria de Justiça do Estado de Mato Grosso, para participar do pitoresco “evento didático” e não a portas fechadas apenas com alguns vereadores.

VEJA O VÍDEO COM O PEDIDO DA “REUNIÃO” ANUNCIADA PELO PRESIDENTE DA CÂMARA:

VEJA ABAIXO O PROJETO DO VEREADOR EMERSON MACHADO APRESENTADO NO PLENÁRIO, QUE IMPEDE LICITAÇÕES COM EMPRESAS INVESTIGADAS:

PL 013-2019 - ESM - veda empresas investigadas participar licitações e contratar com o municpio

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: