quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Crônicas de Rondônia (01/03)–A Justiça precisa ser implacável

O “Bicho” vai pegar

Desmantelada agora a rede de prostituição organizada em Porto Velho, executada pela Polícia Civil, sob a supervisão do Ministério Público Estadual e a  Secretaria de Segurança – SESDEC, onde foram presos e já ouvidos um empresário e duas cafetinas, prossegue agora a parte de depoimentos e aprofundamento das investigações, onde as próprias vítimas, sendo até o momento um total de sete, fornecem os elementos e detalhes da atuação de seus aliciadores.

pedofilia [2]Empresários promíscuos sustentavam a rede

Em depoimentos prestados na própria sede do Ministério Público, as vítimas estão revelando sem medo o tamanho, a profundida e os detalhes de todos os envolvidos, que segundo elas, passa de 20 empresários de renome que se revezavam no usufruto da prática criminosa de obter sexo com menores de idade. Nas próximas horas, não será surpresa se a capital ficar novamente perplexa com a prisão de certos “medalhões” que dantes posavam de bons pais de famílias.

Isso é só o começo

Na verdade, o que está acontecendo é a resposta de um clamor que vem ecoando há anos em Porto Velho de pais e mães que não sabem mais como combater a influência criminosa de Aliciadores, Traficantes, Pedófilos, Voyeurs (Psicopatas metidos a “observador”) e “Bandidas do Sexo” que provocam um verdadeiro abismo na vida e dignidade destes jovem e de seus familiares, quando não, acabam por tirar-lhes a própria vida em incursões desastrosas em “programas” arranjados com promessas de vida boa e fácil.

Quem se lembra de Jacy Paraná?

Não vai nem um ano que o Distrito de Jacy-Paraná estava estampado em todas as capas de sites e jornais do Estado e até em rede nacional pelo alto índice de prostituição e a violência desmedida. Algumas mães davam depoimentos comoventes que sufocavam até os mais frios, pois não viam salvação para suas filhas que apareciam grávidas de operários da Usina de Jirau, dos quais nem o nome direito lembravam. O descontrole e a falta de segurança era tão grande que algumas meninas eram assediadas no portão de casa mesmo, obrigando os pais a determinar um toque de recolher a partir das 18:00hs.

Pois é, Porto Velho está igualzinho.

Para quem não sabe ou não quer saber, além desta abordagem da Polícia Civil por ação do Ministério Público, a capital está infestada de festinhas, as chamadas “Haves”, espalhadas por diversos bairros afastados do centro aos fins de semanas, aonde milhares de jovens, em sua potencial maioria menores de idade, atraídas por “amigas”, perdem sua virgindade sob o efeito de álcool e drogas que “rolam soltas” dentro destes ambientes sem a  menor fiscalização por parte das autoridades competentes. Ou pelo menos, ninguém ouve falar de qualquer operação ostensiva para coibir tais eventos.

Como funciona?

Em recentes investigações jornalística, a equipe da Gazeta esteve a poucos metros de um festa dessas e solicitou a presença da Polícia Militar e Civil, porém, após 5 horas de espera, desistiu de aguardar e retornou para a redação com o  encerramento da “festa”, sem lograr êxito de registrar uma ação competente da Polícia. Em nossos registrou ficou constatado que estas mesmas festas são sustentadas por rapazes e homens adultos de classe média alta,  em seus carrões e camionetes, que abastecem os locais com toda sorte de bebidas alcóolicas, energéticos e cerveja ao som de muita música de muito Funk, hip Hop e Techno. A localização, dos eventos, sempre estrategicamente em bairros da periferia, é mantida em segredo até o último dia e é publicada apenas para os membros conhecidos de gangues organizadas pelo Facebook ou enviada aos seus celulares pessoais horas antes de começar. Na chegada, os menores, meninos e meninas, que chegam a 80% dos frequentadores, são revistados por “seguranças” mal encarados e impedidos de saírem até que consumam uma cota suficiente para bancar a sua entrada, em alguns casos são cobrados ingressos em média pelo valor de R$ 20,00. Para cada frequentador do sexo masculino, tem que vir acompanhado de pelo menos três do sexo feminino, independente da idade, mas de preferência abaixo de 18 anos. O foco  e o objetivo da festa deixa claro que é atrair o maior número de jovens indefesas para inseri-las  no mundo das drogas, alcoolismo e atividades sexuais involuntárias, muitas vezes, desenvolvida em grupos, os quais eles chamam de “Equipes”. É muito duro para mim, como profissional de imprensa e pai de duas filhas escrever à sociedade em que vivemos sem confessar que a simples visualização de uma cena de aliciamento como essa sendo praticada contra uma de minhas filhas, desperta em mim os meus instintos mais primitivos e sinceramente nem sei se recorreria a Polícia para afastar esses vermes  (sem a menor intenção de ofender os vermes), do círculo social da minha família.

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: