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quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Morre o menino Pedro Luiz que aguardava UTI pediátrica que não existe em Alta Floresta e região

A criança, de apenas 9 anos aguardou por quase 3 dias por uma UTI que poderia ter estabilizado seu quadro, mas, não foi por falta de UTI pediátrica no Hospital Regional.

Mesmo diante dos esforços de toda equipe médica  e profissionais de enfermagem que se revesaram no atendimento do menino Pedro Luiz Maciel, a falta de um único leito de UTI pediátrica nas instalações do Hospital Regional Albert Sabin HRAS, que atende a mais cinco municípios da região, foi o fator determinante para que o quadro de traumatismo craniano da criança  não fosse estabilizado agravando ainda mais o estado que acabou levando o garoto a óbito.

Desde a tarde do último Domingo (01/08), quando o menino foi encaminhado ao Hospital Regional de Alta Floresta com fraturas nos dois braços, nas duas pernas e teve que ser submetido a uma cirurgia no abdome, a luta pela vida travada pelo menino já estava com suas horas contadas diante da inércia de autoridades e do descaso da classe política e do governo estadual que em 45 anos de existência do município de Alta Floresta nunca se preocuparam em trazer uma UTI pediátrica para Alta Floresta.

Na manhã de Terça (03/08), a imprensa local, por meio do programa: “Ponto a Ponto”, da Rádio Bambina FM, implorava para que as autoridades municipais e estaduais tomassem uma atitude, em especial ao prefeito de Nova Monte Verde, Edemilson Marino dos Santos (PP), porém, o que obteve em resposta foi um áudio do pai do menino Pedro Luiz, que em gravação dirigida ao prefeito de Edemilson Marino, dizia ter sido amplamente assistido pelos profissionais de saúde que atenderam “a criança”, e que, segundo o áudio do pai, não havia muito o que se fazer pela “criança”, pois a mesma não estava respondendo ao tratamento dedicado.

Em menos de 24 horas após a gravação do áudio, que ao final destilou ofensas e tentou desqualificar a atividade profissional dos jornalistas, Oliveira Dias e Danny Bueno, o garoto Pedro Luiz veio a falecer ainda na ala da enfermaria de Terapia Intensiva, do Hospital Regional, sem ter tido acesso as UTIs disponíveis do complexo hospitalar, que na prática poderia ter servido para trazer estabilidade ao quadro clínico da criança.

Uma resolução, de 2.271, do Conselho Federal de Medicina – CFM, publicada no Diário Oficial da União, em 20/04/2020, determina claramente que em casos semelhantes ao do garoto Pedro Luiz, a entidade médica hospitalar, conforme o Artigo 28, do Decreto nº 20.931, de 11 de Janeiro de 1932, declara que, qualquer organização hospitalar ou de assistência médica, pública ou privada, obrigatoriamente tem que funcionar com um diretor técnico, habilitado para o exercício da medicina, como principal responsável pelos atos médicos ali realizados; … a Resolução CFM nº 2.156/2016, que disciplina sobre “os critérios de admissão e alta em unidades de terapia intensiva”; e

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CONSIDERANDO o Parecer CFM nº 24/2019, segundo o qual “As unidades de terapia intensiva (UTI) e unidades de cuidados intermediários (UCI) devem desenvolver critérios de qualidade para a segurança dos pacientes, além de definir atribuições e competências na composição da equipe”, resolve:

ANEXO I

DEFINIÇÕES DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E UNIDADE DE CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS (UCI)

2.2. As UTI/UCI Adulto devem assistir pacientes graves ou potencialmente graves com idade igual ou superior a 18 anos. Em caso de indisponibilidade de leitos de UTI/UCI pediátrica, as UTI/UCI adulto deverão admitir pacientes com mais de 12 anos. A delimitação por idade é essencial para garantir equipe multidisciplinar adequadamente especializada para a assistência desses pacientes.

2.4. Pacientes que necessitem de cuidados específicos em UTI ou UCI e que se encontrem em locais que não disponham dessas unidades deverão receber os cuidados necessários para estabilização respiratória e hemodinâmica para que sua transferência possa ser realizada com segurança.

2.5. Quando não houver UCI disponível, os pacientes com essa indicação deverão ser acolhidos em UTI.

Em resumo, analisando a fundo a resolução do próprio Conselho Federal de Medicina, um terrível “erro de julgamento” pode ter sido cometido pela equipe médica do Hospital Regional de Alta Floresta, que não observou a necessidade latente de se estabilizar a criança em tempo hábil, ao mesmo tempo, que estavam buscando justificar sua demora colocando em prioridade o transporte do menino para uma UTI pediátrica, cuja as mais próximas ficam a 300 Km de Alta Floresta,  no município de Sinop, porém, o quadro clínico de instabilidade do garoto não permitia que o mesmo pudesse ser removido sem riscos.

O garotinho Pedro Luiz Maciel, 9 anos, conseguiu sobreviver milagrosamente a um desastroso acidente na MT 208, aonde o carro em que ele, sua mãe e a amiga estavam ficou irreconhecível após capotar por dezenas de metros, porém, não teve qualquer chances diante da pior de todas as tragédias que o ser humano pode proporcionar ao seu próximo, a inércia daqueles que poderiam ter feito “um pouco mais”, mas, não fizeram, sabe Deus lá por que… Porém, a estes, a própria consciência, que é a pior de todas condenações será aplicada pelo resto de sua existência, aquela que falará dia e noite as mentes dos que se omitiram de cumprir o seu papel…

Cabe agora, aos responsáveis pela perda ocorrida trazerem a público por quais razão não seguiram a risca a resolução do CFM, a qual foi criada justamente para evitar que tais perdas pudessem acontecer. Independente de tais respostas, nada trará de volta o sorriso aberto do garotinho Pedro Luiz Maciel, que agora descansa dos desmandos dos incompetentes, ao lado de sua mãe, a enfermeira, servidora pública do município de Nova Monte Verde, Márcia Regina Maciel.[/read]

LEIA TAMBÉM:

SEGUE ABAIXO A ÍNTEGRA DA RESOLUÇÃO 2.271 DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA:

RESOLUÇÃO Nº 2.271, DE 14 DE FEVEREIRO DE 2020 - RESOLUÇÃO Nº 2.271, DE 14 DE FEVEREIRO DE 2020 - DOU - Imprensa Nacional

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Um Diploma ou um Sacerdócio?

Que respostas podemos dar à indagação sobre os motivos de se exigir que o profissional de Jornalismo seja formado por uma faculdade?

Digamos, desde logo, que a faculdade não vai "fazer" um jornalista. Ela não lhe dá técnica se não houver aptidão, que denominamos de vocação.

A questão é mais séria e mais conseqüente. A faculdade, além das técnicas de trabalho, permite ao aluno a experiência de uma reflexão teórica e, principalmente, ética.

Não achamos absurdo que um médico deva fazer uma faculdade. É que vamos a ele entregar o nosso corpo, se necessário, para que ele corte, interfira dentro de seu funcionamento, etc.

Contudo, por vezes discutimos se existe necessidade de faculdade para a formação do jornalista, e nos esquecemos que ele faz uma intervenção muito mais radical sobre a comunidade, porque ele interfere, com seus artigos, suas informações e suas opiniões, diretamente dentro de nosso cérebro.

Acho que, pelo aspecto de cotidianidade que assumiu o Jornalismo, a maioria das pessoas esquece que o Jornalismo não é uma prática natural.

O Jornalismo é uma prática cultural, que não reflete a realidade, mas cria realidades, as chamadas representações sociais que interferem diretamente na formulação de nossas imagens sobre a realidade, em nossos valores, em nossos costumes e nossos hábitos, em nossa maneira de ver o mundo e de nos relacionar com os demais.

A função do Jornalismo, assim, é, socialmente, uma função extremamente importante e, dada a sua cotidianidade, até mais importante que a da medicina, pois, se não estamos doentes, em geral não temos necessidade de um médico, mas nossa necessidade de Jornalismo é constante, faz parte de nossas ações mais simples e, ao mesmo tempo mais decisivas, precisamos conhecer o que pensam e fazem nossos governantes, para podermos decidir sobre as atividades de nossa empresa; ou devemos buscar no Jornalismo a informação a respeito do comportamento do tempo, nas próximas horas, para decidirmos como sair de casa, quando plantar, ou se manter determinada programação festiva.

Buscamos o Jornalismo para consultar sobre uma sessão de cinema, sobre farmácias abertas em um feriadão, mas também para conhecermos a opinião de determinadas lideranças públicas a respeito de determinado tema, etc.

Tudo isso envolve a tecnologia e a técnica, o nível das aptidões, capacidades e domínio de rotinas de produção de um resultado final, que é a notícia.

Mas há coisas mais importantes: um bom jornalista precisa ter uma ampla visão de mundo, um conjunto imenso de informações, uma determinada sensibilidade para os acontecimentos e, sobretudo, o sentimento de responsabilidade diante da tarefa que realiza, diretamente dirigida aos outros, mais do que a si mesmo.

Quando discuto com meus colegas a respeito da responsabilidade que eu, como profissional tenho, com minha formação, resumo tudo dizendo: não quero depender de um colega de profissão, "transformado" em "jornalista profissional", que eventualmente eu não tenha preparado corretamente para a sua função.

A faculdade nos ajuda, justamente, a capacitar o profissional quanto às conseqüências de suas ações.

Mais que isso, dá ao jornalista, a responsabilidade de sua profissionalização, o que o leva a melhor compreender o sentido da tarefa social que realiza e, por isso mesmo, desenvolver não apenas um espírito de corpo, traduzido na associação, genericamente falando, e na sindicalização, mais especificamente, mas um sentimento de co-participação social, tarefa política (não partidária) das mais significativas.

Faça-se uma pergunta aos juízes do STF a quem compete agora julgar a questão, mais uma vez, questão que não deveria nem mais estar em discussão: eles gostariam, de ser mal informados?

Eles gostariam de não ter acesso a um conjunto de informações que, muitas vezes, são por eles buscadas até mesmo para bem decidirem sobre uma causa que lhes é apresentada através dos autos de um processo?

E eles gostariam de consultar uma fonte, sempre desconfiando dela?

Porque a responsabilidade do jornalista reside neste tensionamento que caracteriza o Jornalismo contemporâneo de nossa sociedade capitalista: transformada em objeto de consumo, traduzido enquanto um produto que é vendido, comercializado e industrializado, a notícia está muito mais dependente da responsabilidade do profissional da informação, que é o jornalista, do que da própria empresa jornalística que tem, nela, a necessidade do lucro.

Assim sendo, é da consciência aprofundada e conscientizada do jornalista quanto a seu trabalho, que depende a boa informação.

E tal posicionamento só se adquire nos bancos escolares, no debate aberto, no confronto de idéias, no debate sério e conseqüente que se desenvolve na faculdade.

Eis, em rápidos traços, alguns dos motivos pelos quais é fundamental que se continue a exigir a formação acadêmica para o jornalista profissional.

A academia não vai fazer um jornalista, mas vai, certamente, diminuir significativamente, a existência de maus profissionais que transformam a informação, traduzida na notícia, em simples mercadoria.

Danny Bueno

_______________Arquivo vivo: